O supercom­putador Tianhe-1A, instalado no Centro Nacional de Compu­tação da China, na cidade de Tianjin, conquistou o primeiro lugar na disputa entre os mais velozes| Foto: Nvidia/The New York Times

Competição

EUA investem alto para liderar

Durante décadas, os EUA foram os responsáveis pelo desenvolvimento da maior parte da tecnologia hoje empregada nos gigantescos supercomputadores. Os laboratórios e as universidades norte-americanas também construíram as maiores e mais rápidas máquinas desse tipo. Alguns dos sistemas mais avançados simulam o efeito de armas nucleares, enquanto outros são usados para fazer previsões climáticas e pesquisas energéticas.

Em 2002, os EUA perderam o título de reis da supercomputação pela primeira vez – e de maneira surpreendente. Naquele ano, o Japão apresentou uma máquina cuja capacidade de processamento superava a potência combinada dos 20 maiores computadores norte-americanos. O governo de Washington respondeu à altura: incentivou a formação de equipes voltadas para a reconquista do "campeonato" e despejou dinheiro em projetos de supercomputação. Dois anos depois, os EUA recuperaram o status de líderes do setor – posição que defenderam até o surgimento da máquina chinesa Tianhe-1A.

Durante o congresso de computação ocorrido na China na última quinta-feira, pesquisadores discutiram como aplicar a nova supermáquina em campos diversos da investigação científica, tais como a astrofísica e a engenharia biomolecular.

Jack Dongarra, da Universi­dade do Tennessee, conta que um projeto chinês para rivalizar com a Intel e outros gigantes do setor de chips é bastante promissor. "Eles ainda não chegaram lá, mas deverão fazê-lo dentro de um ou dois anos", garante.

Steven Wallach, um renomado engenheiro da computação, minimiza a relevância da conquista chinesa. Para Wallach, só porque um sistema é capaz de processar trilhões de cálculos por segundo não significa que ele seja bom em tarefas mais especializadas.

Os EUA querem agora desenvolver máquinas ainda mais rápidas a partir de componentes exclusivos. O país também deseja fazer com que os programas usados nesses sistemas sejam mais amigáveis para os cientistas. Mas esses objetivos ainda estão a alguns anos de distância. Até lá, a China será a campeã da supercomputação.

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Supercomputador Kraken, instalado nos Estados Unidos, perdeu o posto de mais rápido do planeta
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Tianjin - Um centro de pesquisas chinês apresentou recentemente o su­­percomputador mais rápido da história. Com isso, a China supera os Estados Unidos como o país responsável pela fabricação da má­­quina mais veloz do mundo – e ganha o direito de se declarar uma superpotência tecnológica.

O computador em questão, batizado de Tianhe-1A, é 40% mais potente do que o atual campeão de velocidade. O desempenho da nova máquina foi verificado por meio de um teste padrão, que mede a rapidez com que os equipamentos realizam cálculos matemáticos.

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O responsável pelo ranking ofi­­cial dos supercomputadores, Jack Dongarra, que também é cientista da computação da Uni­­versidade do Tennessee, confirma os resultados. Mesmo antes do fechamento da lista semestral das 500 má­­quinas mais velozes do mundo, marcado para o início da próxima semana, Dongarra afirma que o computador chinês "dá um ba­­nho no atual número 1 do mundo". "Só vamos encerrar nosso le­­vantamento no dia 1.º de no­­vem­­bro, mas é improvável que apareça outro sistema mais rápido", diz.

A Universidade Nacional de Tecnologia da Defesa – vinculada aos ministérios chineses da Defesa e da Educação – revelou a supermáquina, e demostrou sua performance, durante uma conferência em Pequim, na última quinta-feira. A corrida para construir o supercomputador mais ve­­loz do planeta alimenta o orgulho patriótico na China. Esses equipamentos são valorizados pela capacidade de resolver questões estratégicas aos interesses nacionais, em setores que vão da defesa à energia, das finanças à ciência.

A tecnologia da supercomputação também é aplicada no mundo dos negócios: empresas petrolíferas podem usá-la para encontrar novos reservatórios e instituições financeiras empregam a ciência na automação de transações cada vez mais velozes. Além disso, os centros de pesquisa equipados com supercomputadores costumam atrair o mais alto ta­­lento científico. A importância des­­sas máquinas, portanto, ultrapassa a mera velocidade de cálculo.

Ao longo dos últimos dez anos, os chineses subiram algumas po­­sições nos rankings da supercomputação. O Tianhe-1A é o resultado de bilhões de dólares investidos na área e de muito aprimoramento científico. Nesse período, a China deixou de ser uma nação periférica para a ciência da computação e assumiu a condição de superpotência tecnológica. "As­­susta saber que o domínio dos EUA na computação de alta performance está em risco. É possível dizer que essa ultrapassagem atinge a base do nosso futuro econômico", acredita o especialista em supercomputação Wu-Chun Feng, que também é professor do Instituto Politécnico da Virgínia.

A união faz a força

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Os supercomputadores mo­­der­­nos surgem a partir da combinação de milhares de pequenos servidores, que passam a funcionar como uma única máquina por meio de softwares específicos. Nesse sentido, qualquer organização com algum conhecimento na área e dinheiro em caixa pode comprar componentes relativamente simples e, a partir deles, criar uma máquina veloz.

O sistema chinês segue esse modelo, pois une milhares de chips fabricados por companhias americanas como a Intel e a Nvi­­dia. O ingrediente secreto por trás do Tianhe-1A – e, portanto, seu real avanço tecnológico – está escondido nas suas interconexões, que foram desenvolvidas pelos pesquisadores da China. De acordo com Dongarra, elas permitem que os dados trafeguem a uma taxa de transmissão estonteante. "Essa tecnologia de rede foi desenvolvida pelos chineses", diz. A interconexão chinesa suporta praticamente o dobro da velocidade das interconexões comuns, como a InfiniBand, bastante usada em supercomputadores.