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Paris – O presidente Nicolas Sarkozy vem semeando o desassossego em torno dele – entre seus adversários socialistas e também na direita, o que é um paradoxo. Pela manhã, os deputados acordam se perguntando o que Sarkozy inventou desta vez. E toda manhã ficam desconcertados com os novos "insights" do chefe. Todos partilham desta opinião: ou se admira ou se odeia Sarkozy. Ele é um "animal político". Mas há os que divergem: alguns o comparam a um "grande mestre" do xadrez, outros o consideram um homem maquiavélico. E qual o golpe, a artimanha, que Sarkozy inventou neste momento?". Ele colocou na cabeça que vai dizimar o partido socialista, atraindo seus representantes mais notáveis.

Desde sua eleição, o novo presidente francês já vem empreendendo esta demolição da esquerda, no seu interior. Assim, no seu governo de direita, nomeou alguns socialistas, entre eles um espetacular, Bernard Kouchner, o homem responsável pela organização "Médicos do Mundo", que é o seu ministro das relações exteriores.

Pensava-se que, depois desse "grande golpe", sua bulimia de socialistas seria saciada e que ele, então, suspenderia sua "operação de sedução". Ora, absolutamente. Ele vem distribuindo à mão cheia, como se dá a chupeta para os bebês, "postos" no governo: presidência da comissão junto à assembléia nacional, embaixadas, missões, cargos de prestígio na tevê pública, etc. E sempre que possível, é para os socialistas que ele oferece essas "guloseimas".

Os socialistas assistem a essas acrobacias com estupor e tremor. E sempre se perguntam se um "colega" que ontem mesmo era seu amigo de partido, não teria se tornado seu inimigo da noite para o dia, pois "Sarkozy já o estaria requisitando". Sarkozy não se contenta em capturar, dentro do partido socialista, suas figuras de segundo escalão. Na sua lista de conquistas está um grande personagem, Hubert Védrine, ex-ministro das relações exteriores do socialista Lionel Jospin, a quem Sarkozy pediu uma "reflexão sobre uma reforma da Constituição". E uma outra celebridade está na sua mira: o brilhante e agitado Jack Lang, que foi o grande ministro socialista da Cultura. Quando dois socialistas se cruzam, o diálogo é sempre o mesmo: "E você? Já recebeu uma oferta do Palácio do Eliseu?" É uma consagração, uma espécie de "legião de honra", para um socialista, dizer que foi procurado por Sarkozy e que recusou a oferta. Certamente não é possível verificar se a afirmação é verdadeira. Suspeita-se até que alguns socialistas vêm se vangloriando de que Sarkozy chegou a lhes suplicar para aceitarem um cargo e que recusaram secamente – mesmo que esse golpe do telefone seja pura imaginação.

O curioso é que essa mania que Sarkozy tem, de beliscar na manjedoura dos seus adversários, não indispõe somente o partido socialista. No campo da direita os partidários do presidente também estão desorientados. A cada manhã ficam sabendo que um dos "doces" distribuídos pelo presidente não foi para um deles. E foi para quem? Foi pego de passagem por um inimigo socialista.

Um início de mau humor já é perceptível entre os eleitos da direita. "Se todos os talentos estão no campo socialista, resmungava outro dia um "sarkozista", vamos acabar perguntando se não teria sido melhor para a França que nossos inimigos vencessem as eleições. Enfim, de qualquer maneira, entre nós, sarkozistas, só tem imbecis!".

Sim, a direita protesta mas não são protestos muito fortes. Porque Sarkozy é um homem que os amigos não contestam frontalmente.

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