O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acusou ontem o Partido Republicano de praticar "darwinismo social" ao propor e aprovar, na Câmara dos Representantes onde a oposição é maioria , um Orçamento que corta drasticamente programas de saúde, educacionais, de pesquisa e de defesa civil, ao mesmo tempo em que inclui US$ 4,6 trilhões em desonerações para as camadas mais ricas da população nos próximos anos.
Obama defendeu que a peça orçamentária é antiética, afronta a classe média, aprofunda desigualdades e é uma receita para o declínio da economia norte-americana, apesar de ser vendida como uma ofensiva de austeridade para o país enfrentar seu gigantesco déficit público.
O discurso, no encontro anual da agência de notícias Associated Press, foi desenhado para marcar claramente as diferenças entre os receituários democrata e republicano para tirar os EUA da crise e dar o tom da campanha.
Em vários movimentos dos últimos dias, os democratas estão se antecipando à escolha oficial do candidato que enfrentará Obama que deverá ser o ex-governador Mitt Romney e buscando o confronto entre plataformas.
Romney endossa a visão, um mantra da era Ronald Reagan (1981-1989), de que menos regulação estatal e desonerações fiscais para grandes empresas e os mais ricos ajudam a girar a economia, tendo efeitos positivos para toda a sociedade.
O esforço de Obama é para caracterizar esta política como elitista, voltada ao 1% no topo da pirâmide, e ineficiente, sendo a culpada por levar os EUA à maior crise econômica em 80 anos e a crescentes índices de desigualdade.
"Neste país, a prosperidade geral nunca foi obtida a partir do sucesso de poucos abastados no topo. Sempre veio do sucesso de uma robusta e crescente classe média", disse Obama. "Este é um plano antiético com toda a nossa história como terra da oportunidade e da mobilidade social para qualquer um que deseje alcançá-la."
A proposta republicana foi aprovada na quinta-feira passada pela Câmara, controlada pela oposição, capitaneada pelo presidente da Comissão de Orçamento, Paul Ryan. Deputado por Wisconsin, Ryan apoia Romney como candidato do partido e seu Orçamento recebeu aplausos do ex-governador de Massachusetts, citado nominalmente por Obama ontem pela primeira vez nesta campanha.
"O governador Romney disse esperar que uma versão similar deste plano seja apresentada como lei no primeiro dia de seu governo. Ele até chamou o plano de maravilhoso, que é uma palavra que não se houve com frequência quando se descreve um orçamento", disse Obama, arrancando risos da plateia.
Dirigindo-se à classe média e aos eleitores independentes, que serão fundamentais para definir as eleições, Obama disse que, ao propor cortes de impostos sem apontar as fontes de recursos, a matemática republicana não fecha e isso significará um corte significativo em programas que são essenciais à recuperação econômica.
Para Obama, a proposta republicana é um cavalo de Troia. "Disfarçada de um plano para redução do déficit, esta é, na verdade, uma tentativa de impor uma visão radical sobre nosso país. Não passa de um darwinismo social apenas finamente velado. Destruir as coisas de que necessitamos, como educação, pesquisa e desenvolvimento, para fazer uma economia crescer de forma duradoura é a receita para o declínio da economia americana", afirmou o presidente.