O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se pronunciou nesta terça-feira (28) sobre as múltiplas denúncias de violência policial contra afro-americanos, e afirmou que levantam “perguntas preocupantes”, além de chamar o país a fazer um “exame de consciência” não só sobre a polícia, mas sobre as causas da pobreza e da criminalidade entre os jovens.
“Vimos muitas instâncias do que parecem ser policiais interagindo com indivíduos, principalmente afro-americanos, frequentemente pobres, de formas que levantam perguntas preocupantes”, disse Obama em entrevista coletiva após encontro com o primeiro- ministro do Japão, Shinzo Abe, que está em visita oficial aos EUA.
Obama lembrou que, desde os distúrbios em Ferguson, no estado do Missouri, pela morte de um jovem negro por um policial branco em agosto de 2014, a tensão cresceu e agora há protestos em várias comunidades do país “uma vez por semana ou a cada duas semanas”.
“O que eu diria é que isto foi uma crise que se desenvolveu lentamente. Isto está acontecendo há muito tempo. Isto não é novo, e não deveríamos fingir que é novo. Isto está acontecendo há décadas”, indicou Obama.
Pouco antes, o presidente norte-americano condenado os distúrbios de segunda-feira à noite em Baltimore (Maryland), que terminaram com 15 policiais feridos, 202 detenções e 144 veículos incendiados.
Obama lembrou que criou um grupo de trabalho para “reconstruir a confiança” na polícia e trabalhar com essas agências de segurança para que “mudem a si mesmas”.
“Mas não podemos deixar isto unicamente para a polícia. Acho que há departamentos de polícia que têm que fazer um exame de consciência. Acho que há algumas comunidades que têm que fazer um exame de consciência. Mas principalmente acho que nós, como país, temos que fazer um exame de consciência”, declarou.
“Sem desculpar as atividades criminais nestas comunidades, se temos comunidades empobrecidas e despojadas de oportunidades, onde as crianças nascem na extrema pobreza, cujos pais não podem cuidar deles, é mais provável que esses jovens acabem na prisão ou mortos em vez de irem à universidade”, acrescentou.
Nessas comunidades, continuou, “não há investimento e a indústria das drogas acaba sendo o principal empregador para muita gente”.
“Se acharmos que nesses entornos bastará enviar a polícia a fazer o trabalho sujo de conter os problemas, sem dizer, como nação e como sociedade, o que podemos fazer para mudar essas comunidades para dar oportunidades a esses meninos, não vamos resolver este problema”, advertiu Obama.
Por outro lado, se houver verdadeira “seriedade” na hora de resolver o problema, o país deve “pensar no que é possível fazer para proporcionar educação antecipada para as crianças, reformar o sistema de justiça criminal para que não seja só um caminho da escola à prisão e investir para que as pessoas encontrem trabalho”.
Obama defendeu que “boa parte” de sua agenda como presidente “marcaria uma diferença” nesse sentido, embora tenha admitido que o Congresso não parece disposto a fazer “grandes investimentos em comunidades urbanas”.
No entanto, o problema pode se resolver com “mobilização política, se todo mundo dissesse que isto é importante, que é significativo, que não prestássemos atenção a estas comunidades só quando há distúrbios ou disparam em um jovem, mas o tempo todo”.