Depois de 3.209 dias, pelo menos 103 mil civis iraquianos mortos, 4.482 baixas militares americanas e mais de US$ 1 trilhão gasto, a Guerra do Iraque chegará ao fim em 31 de dezembro deste ano.Segundo o presidente Barack Obama, até a data todos os soldados retornarão. Não sobrará nenhuma força residual em solo iraquiano, exceto as que patrulham a embaixada em Bagdá.
"Nos próximos dois meses, nossos soldados farão as malas. O último soldado americano cruzará a fronteira de cabeça erguida", declarou Obama. "É assim que os esforços militares dos Estados Unidos no Iraque terminarão".
O anúncio, embora siga um cronograma de 2008, tem enorme carga simbólica ao pôr fim a um conflito que, ao longo da década, chegou a ser comparado ao do Vietnã, dada a fadiga de uma guerra custosa em vidas, em dólares e em capital político. O ditador Saddam Hussein foi deposto em três semanas e capturado em nove meses, mas o cenário em campo se revelou muito mais complexo do que previam os EUA.
Ao longo de oito anos, o apoio ao conflito caiu vertiginosamente entre a população americana, conforme subiam as baixas e diminuía a clareza das razões que levaram Washington a iniciar o conflito em março de 2003.
A data ratificada por Obama ontem está no acordo fechado com Bagdá em 2008, sob George W. Bush. Foi enfatizada pelo democrata há um ano, quando os últimos combatentes dos EUA saíram do Iraque, deixando só tropas para treinar e dar apoio logístico aos militares locais.
Ainda assim, alguns militares, analistas políticos e legisladores esperavam que ele reavaliasse a retirada e deixasse no país uma força residual de até 20 mil soldados.
Porta aberta
Hoje, há 38 mil militares americanos no país menos de um quarto do que havia no país no auge do esforço de guerra, em 2007. "Sem os soldados americanos, o Iraque não está condenado à escuridão, mas sua chance de redenção diminuiu visivelmente", escreveu Kenneth Pollack, diretor do departamento de Oriente Médio no centro de Estudos Brookings e um dos principais estudiosos do Iraque.
Pollack era um dos que defendiam a manutenção de ao menos 10 mil soldados, alertando para o risco de recrudescimento dos conflitos sectários entre árabes xiitas, árabes sunitas e curdos que produziam atentados quase diários em 2006 e 2007, antes do aumento de contingente chamado de "surge".