Saída rápida das tropas frustra o Pentágono
O estado das finanças norte-americanas é um fator que teve peso da decisão do presidente Barack Obama em retirar as tropas do Afeganistão. Mais cedo ontem, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), confirmou que a economia se recupera de forma mais lenta do que o esperado.
No entanto, a decisão de retirada rápida dos soldados frustra o Pentágono, assim como outras alas no Congresso, que preocupam-se com os reflexos de segurança após uma retirada muito rápida.
O secretário de Defesa, Robert Gates, defendeu recentemente uma redução mais lenta, e manifestou a vontade de que os cerca de 33 mil ficassem em solo afegão ao menos até o fim do prazo, em 2012.
Os chefes do Pentágono temem que uma desocupação rápida demais reverta os avanços obtidos pelos EUA contra a insurgência do Taleban no Afeganistão, que atualmente tem grande força.
A morte de Osama bin Laden, o chefe da Al-Qaeda, no dia 1.º de maio, e o consequente enfraquecimento da rede terrorista ressalta para alguns o cumprimento do principal objetivo das operações iniciadas pelo ex-presidente George W. Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001.
O líder terrorista foi morto com um tiro disparado por um dos cerca de 20 militares de elite da Marinha dos Estados Unidos que invadiram, em dois helicópteros, sua casa de alta segurança em Abbottabad, cidade a cerca de 100 km da capital paquistanesa.
A tese da maioria dos congressistas, segundo analistas, é de que o país não pode mais arcar com operações para a estabilização do Afeganistão, e que só há justificativa para manter um pequeno contingente cujo objetivo é conter os avanços da Al-Qaeda.
Nova York - O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou ontem a retirada de 10 mil militares norte-americanos do Afeganistão neste ano. O pronunciamento, em rede na tevê dos EUA, aconteceu às 21 h (de Brasília).
O presidente norte-americano afirmou ainda que outros 23 mil combatentes deverão voltar para os EUA na metade do ano que vem.
"América, está na hora de nos focarmos na construção da nação aqui em casa", afirmou Obama.
Os EUA contam hoje com cerca de 100 mil homens no Afeganistão, e a retirada seria equivalente ao contingente extra de tropas enviado no fim de 2009.
O anúncio marca um contraste entre a decisão de Obama e o desejo do comando militar, inclusive do general David Petraeus, comandante das forças dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental) no Afeganistão, que vai assumir CIA (agência de inteligência).
Os militares queriam um corte menor no efetivo, feito de maneira mais gradativa. Obama, no entanto, sofre a pressão do seu partido, que cobra a retirada de uma guerra impopular e que consome gastos bilionários mensais em um momento em que os EUA vivem uma crise fiscal.
Segundo pesquisa divulgada nesta semana, 56% dos americanos querem a retirada das tropas do Afeganistão o mais "rápido possível" patamar recorde desde que o levantamento teve início e que cresceu após a morte de Osama bin Laden, em 1º de maio.
O presidente norte-americano enfrenta a campanha de reeleição no ano que vem, em que também será pressionado pelo mau momento da maior economia mundial.
Gastos
Os EUA gastam pouco menos de US$ 10 bilhões a cada mês com a guerra no Afeganistão. Com a economia em crise, o déficit anual do governo tem ultrapassado a casa de US$ 1 trilhão, já que aumentaram os gastos estatais de estímulo e a arrecadação caiu.
Nas últimas semanas, lideranças políticas vêm cobrando uma saída mais rápida do Afeganistão, priorizando o combate ao braço da Al-Qaeda no país.
A retirada de 33 mil militares pode significar que o governo norte-americano está recuando das suas ambições na região.
Em 2009, Obama disse que as prioridades dos EUA eram não só o combate à Al-Qaeda e ao Taleban, mas também permitir que o Afeganistão tivesse tempo para organizar seu governo e suas forças de segurança.
Ao chegar ao poder, há dois anos, Obama priorizou a guerra no país em relação à do Iraque. Mesmo com a retirada, os EUA ficarão com 68 mil soldados no Afeganistão, quase o dobro do que havia no fim da gestão George W. Bush (2001-2009).