O presidente dos EUA, Barack Obama, encontrará nesta sexta-feira líderes da América Latina e do Caribe e vai oferecer cooperação prática acima das diferenças ideológicas que marcam as relações de Washington com a região.
Mas a 5ª Cúpula das Américas, que reúne 34 governantes em Trinidad e Tobago, deve ser dominada pelo duradouro embate ideológico entre EUA e Cuba, único regime comunista unipartidário da região.
Oficialmente, a questão de Cuba, que nunca participou dessas cúpulas (iniciadas em 1994), não consta da pauta, que será voltada para questões econômicas e energéticas. Mas os governos da região têm pedido ao presidente dos EUA que honre sua promessa de mudança, o que incluiria acabar com o embargo a Cuba em vigor há 47 anos - e que acabou isolando mais os Estados Unidos do que o seu alvo original.
O pedido parece ir além da disposição de Obama por enquanto, mas na segunda-feira a Casa Branca tomou um gesto de reaproximação ao suspender restrições de viagens e remessas financeiras de cubano-americanos para a ilha e autorizar empresas de telecomunicações a operarem no país vizinho.
Obama e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, deixaram claro na quinta-feira que, embora seu governo esteja disposto a conversar com Havana acerca de uma reaproximação, espera que o lado cubano também tome a iniciativa de libertar presos políticos e melhorar a situação dos direitos humanos.
"Não espero que as coisas mudem da noite para o dia. Não estamos tentando ter mão pesada, queremos estar abertos ao envolvimento, mas vamos fazê-lo de modo sistemático, mantendo o foco nas dificuldades e lutas que muitos cubanos estão sofrendo", disse Obama a jornalistas durante visita ao México.
Mas antes ele sinalizara a disposição de deixar para trás posições ideológicas arraigadas para buscar soluções práticas para os graves problemas das Américas, especialmente a crise econômica que começou nos EUA e não poupou a América Latina.
"Anos de progresso no combate à pobreza e a desigualdade estão em jogo. Os Estados Unidos estão trabalhando para promover a prosperidade no hemisfério ao lançar nossa própria recuperação", escreveu Obama em um artigo.
Esse tom conciliador pode não bastar para convencer críticos mais virulentos das políticas norte-americanas, como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que condenou a exclusão de Cuba de mais este evento regional e disse que não assinará a declaração final.
Na quinta-feira, Chávez organizou uma minicúpula de aliados, inclusive o presidente cubano, Raúl Castro, e declarou que Cuba é "mais democrática" que os EUA.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma mensagem menos radical. Mas diz que busca uma mudança concreta da política dos EUA na região, e que isso inclui Cuba.
"Nós não temos mais Guerra Fria, nós não temos mais luta armada - só existe um grupo que defende a luta armada, que são as Farc", disse Lula na quinta-feira após conversar com Obama por telefone.
Ele afirmou que transmitirá essa mensagem na cúpula, que começa nesta sexta-feira.