O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve sancionar hoje a reforma do sistema de saúde, definida por ele como "uma vitória do povo americano, "após quase cem anos de debate e frustração. Mas a aprovação da nova legislação, que aconteceu na madrugada de ontem sem nenhum voto republicano, representou o início de uma nova batalha contra os democratas.
Ontem, a oposição foi rápida ao divulgar declarações de repúdio à reforma, ameaçando anulá-la e, principalmente, usá-la contra os democratas nas eleições legislativas de novembro. Pesquisas feitas antes da votação mostravam que a maior parte dos americanos desaprova a reforma.
A oposição não ficará restrita ao discurso: em ao menos 30 estados, republicanos já apresentaram projetos para tentar limitar pontos da reforma por meio de emendas locais. Procuradores de ao menos três estados também já anunciaram que questionarão a constitucionalidade da lei.
E, hoje, congressistas do partido prometem tomar todas as medidas possíveis para atrapalhar a aprovação, no Senado, de um pacote de emendas orçamentárias que ainda imporá mudanças à reforma que só depende da assinatura do presidente para vigorar, mas que pode ter regras afetadas ou adiadas pelas emendas.
O líder republicano no Senado, Mitch McConnell (Kentucky), afirmou que as emendas piorariam ainda mais a reforma já aprovada.
"Os líderes democratas querem que a gente pegue a lei que passou pelo Senado em dezembro e que a Câmara votou ontem e faça com que o aumento de impostos seja maior ainda, criticou.
Em meio a ataques da oposição, os democratas pediram trégua. "É hora de nos acalmarmos, republicanos", apelou o deputado Bob Filner, da Califórnia.
O porta-voz da Presidência, Robert Gibbs, reconheceu que "haverá muitas coisas com as quais teremos de lidar nas próximas semanas, meses e anos para que a reforma seja implementada.
Os ataques republicanos são principalmente motivados pela obrigatoriedade do plano para todos os americanos, que pagarão multa caso não respeitem a lei. O presidente chegou a ser chamado de socialista e comunista por defender maior intervenção do governo no setor.
Segundo a nova legislação, todos deverão ter um plano, por meio do empregador ou de subsídios do governo. Segundo o Escritório de Orçamento do Congresso norte-americano, a reforma custará US$ 938 bilhões em dez anos, mas reduzirá o déficit público a longo prazo.
Para Rob Simmons, candidato republicano ao Senado, "Washington deu um sinal de desprezo ao povo, aumentando a montanha de dívidas que já assombra o futuro das crianças.
Além das preocupações políticas, há também o temor de que as ideias aprovadas pelo Congresso mudem radicalmente, depois que a lei entrar em vigor.
O diretor de políticas de saúde pública do instituto Cato, Michael Cannon, acredita que dificilmente a lei aprovada no domingo ficará inalterada nos próximos quatro anos.
"Ela cria muitas situações instáveis que o Congresso terá de legislar", afirma ele.