O diretor do departamento responsável pela política étnica do Partido Comunista chinês disse ontem que os EUA "sofrerão consequências" se Barack Obama receber o dalai-lama. Em vão. Horas mais tarde, a Casa Branca confirmou que o líder tibetano no exílio que tem viagem marcada para os EUA no fim deste mês terá uma reunião com o presidente.
"Tomaremos as medidas necessárias para que os países cujos líderes recebam o dalai-lama saibam que estão prejudicando as relações com a China", disse Zhu Weiqun, do Departamento de Trabalho Frente Unida do PC chinês.
"No que um encontro com o dalai-lama ajudaria os EUA a saírem de sua atual crise econômica? Isso prejudica a cooperação e a confiança entre a China e os EUA", afirmou Zhu.
"Esperamos que nossa relação com a China esteja suficientemente madura para trabalharmos em áreas de interesse mútuo (como clima, economia global e não proliferação) e para discutir franca honestamente temas sobre os quais discordamos", disse Bill Burton, porta-voz da Casa Branca.
Ele acrescentou que, quando esteve na China em novembro, Obama disse aos anfitriões que se reuniria com o dalai-lama.
Diferentemente de seus antecessores George W. Bush e Bill Clinton, que estiveram com o líder tibetano nos primeiros anos de seus mandatos, Obama, em nome da boa relação com a China, evitou o encontro às vésperas de sua visita ao país.
Mas a Casa Branca anunciou no mês passado que o democrata receberia o dalai-lama ambos são premiados com o Nobel da Paz- no início deste ano.
A entrevista de Zhu foi convocada para detalhar a última rodada de negociações entre emissários do dalai-lama e o governo chinês. Desde 2002, as conversas não avançam, e o Partido Comunista se nega a conceder autonomia ao Tibete.
Zhu disse que só se discutiu o status do dalai-lama, "não o futuro do Tibete", e que o líder religioso não representava os 6 milhões de tibetanos. No fim de 2008, a China protestou pelo encontro do presidente francês, Nicolas Sarkozy, com o dalai-lama e ameaçou sanções econômicas que, salvo pelo adiamento da compra de aviões da Airbus, não ocorreram.
Autonomia
O dalai-lama, que mora na Índia desde 1959, diz defender "autonomia genuína" para o Tibete, não independência. A Província foi invadida em 1950 pelas tropas comunistas de Mao Tsé-tung, que prometeu autonomia política e liberdade religiosa, o que não ocorreu.
Em 2008 e 2009, violentos conflitos mataram centenas nas duas Províncias chinesas de minorias étnicas e religiosas, a budista Tibete e a muçulmana Xinjiang. Ambas foram praticamente isoladas do mundo por meses com proibição do turismo e bloqueio à internet e ligações internacionais.
A relação entre China e EUA tem se deteriorado desde dezembro, após desencontros nas negociações da cúpula sobre a mudança climática. Desde então, o Google acusou a China de espionagem em seu sistema de segurança, o governo americano criticou a censura chinesa na internet, e a decisão americana de vender armamentos a Taiwan motivou ameaça de represália comercial chinesa.