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Estados Unidos

“Obamagate”: 5 questões para entender as acusações de Trump contra o ex-presidente americano

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, em foto de setembro de 2019. Obama disse que a decisão do Departamento de Justiça dos EUA de retirar as acusações contra Michael Flynn é uma ameaça ao Estado de Direito (Foto: Christof STACHE / AFP)

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O ex-presidente americano Barack Obama e as investigações sobre a interferência da Rússia nas eleições dos EUA de 2016 voltaram ao noticiário do país nos últimos dias.

No domingo de dia das mães, o presidente americano Donald Trump retuitou um vídeo de um apresentador que acusava Obama de usar os seus últimos dias na Casa Branca para sabotar o novo governo. "O maior crime político na história da América. De longe!", comentou Trump. Em outro tuíte, ele simplesmente disse: "Obamagate!"

Trump tuitou 126 vezes nesse dia, o terceiro maior número de tuítes por dia em toda a sua presidência, segundo o Factba.se, um site que monitora as declarações do presidente americano.

As acusações repercutidas por Trump dizem que Obama armou um esquema para que autoridades do novo governo fossem investigadas e para, assim, sabotar o governo Trump antes de seu início, e que para isso teria usado o "deep state", burocratas no governo federal, para o esquema.

Os comentários foram feitos poucos dias após o Departamento de Justiça dos EUA retirar as acusações contra Michael Flynn, o primeiro conselheiro nacional de segurança de Trump, que foi demitido pelo presidente após 24 dias no cargo.

Entenda o que é o "Obamagate" e as acusações do presidente Donald Trump contra o ex-presidente Barack Obama.

O que é o Obamagate?

É uma expressão que o presidente Donald Trump usou para criticar o seu antecessor, Barack Obama. Trump não explicou diretamente a referência do termo, porém retuitou comentários de apresentadores e políticos conservadores que alegam que Obama usou suas últimas semanas no governo para perseguir os oficiais da administração Trump que estavam chegando à Casa Branca e, assim, sabotar a nova administração. "O maior crime político na história da América, de longe!", tuitou Trump.

Apesar das alegações, não há nenhuma evidência ou investigação em curso contra o ex-presidente democrata, o que torna o emprego do termo, uma junção do nome Obama com o escândalo de Watergate, uma ferramenta política.

Qual é o pano de fundo da briga entre Trump e Obama?

Tudo gira em torno de Michael Flynn, ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, demitido após 24 dias no cargo por ter mentido ao FBI sobre sua relação com os russos. Obama criticou a decisão do Departamento de Justiça (DOJ) de retirar as queixas contra Flynn, que havia se declarado culpado em duas ocasiões mas que recentemente passou a alegar inocência. Para o ex-presidente, a decisão do Departamento coloca em risco o Estado de Direito.

Trump, por sua vez, alega que Obama permitiu que o FBI investigasse membros da sua campanha presidencial e que, durante o período de transição, no início de 2017, teria instruído funcionários do governo a não revelar ao presidente eleito que Flynn estava sendo investigado. O republicano e seus aliados alegam também que Flynn foi vítima de uma investigação destinada a atrapalhar e sujar a imagem da nova presidência.

Quem é Flynn?

Ele foi uma das peças-chave na investigação da interferência russa nas eleições de 2016, conduzida pelo escritório do procurador especial Robert Mueller. Declarou-se culpado por ter mentido ao FBI sobre sua ligação com os russos e passou a ajudar nas investigações de Mueller em troca de uma pena menor.

Flynn foi o primeiro assessor de segurança nacional da administração Trump e havia trabalhado na campanha eleitoral do republicano em 2016. Porém, ficou apenas 24 dias no cargo. Em 13 de fevereiro, apresentou sua carta de demissão depois que veio a público a informação de que ele teria laços com o embaixador russo Sergey Kislyak.

Em dezembro de 2016, Flynn pediu a Kislyak para que a Rússia não retaliasse contra as sanções da administração Obama e se opusesse à administração Obama em uma votação sobre Israel que ocorreria nas Nações Unidas (ONU).

Na época, estava em andamento uma investigação do FBI sobre um possível conluio entre a campanha de Trump e os russos para interferir nas eleições de 2016, que posteriormente não encontrou nenhum vínculo entre as partes. Flynn foi interrogado pelo FBI enquanto ainda era assessor de Trump e disse que não tinha nenhum vínculo com os russos. Depois, admitiu ter mentido aos investigadores.

Flynn estava envolvido com outros negócios que poderiam ter resultado em mais acusações contra ele, incluindo lobby estrangeiro não informado. Em seu acordo, os promotores de justiça deixaram essas outras acusações de lado em troca de informações para a investigação de conluio. Mas com o tempo Flynn e seus advogados perceberam que a disposição da justiça em manter o acordo estava diminuindo, por isso partiram para outra estratégia: voltar atrás e alegar ser inocente.

Com uma nova defesa, Flynn conseguiu a liberação das anotações feitas pelos oficiais do FBI no momento do interrogatório para tentar provar que eles o colocaram em uma armadilha. Nesse material, os investigadores parecem refletir antes de entrevistar Flynn. "Qual é o nosso objetivo - verdade, admissão ou fazê-lo mentir para que possamos processá-lo ou demiti-lo?", dizia uma das notas. Outra dizia: "[A Casa Branca] ficará furiosa" e "proteger nossa instituição ao não jogar jogos".

Considerando essas novas informações, o Departamento de Justiça retirou as queixas contra Flynn. O procurador Timothy Shea também argumentou que a investigação de Flynn devido aos seus contatos com a Rússia "não é mais justificável".

A investigação de Flynn foi uma perseguição?

Apoiadores de Trump alegam que sim. Porém, um relatório do inspetor-geral do DOJ, Michael Horowitz, sobre a conduta do FBI no caso afirma que os investigadores não burlaram nenhuma regra ao iniciar uma investigação contra Flynn e outros três membros da campanha de Trump, posteriormente batizada de Crossfire Hurricane.

Republicanos alegam que em vez de abrir uma investigação, os federais deveriam ter alertado Trump sobre o interesse da Rússia em ajudar na sua campanha – como foi feito neste ano quando a inteligência dos EUA informou que hackers russos estariam promovendo as campanhas de Trump e do ex-candidato democrata Bernie Sanders.

Porém, o relatório do inspetor-geral disse que, ao abrir a investigação sem informar Trump, a equipe do FBI não infringiu nenhuma regra porque trata-se de uma decisão discricionária, que fica a critério dos próprios investigadores.

O diretor assistente da Divisão de Contrainteligência do FBI na época, William Priestap, que aprovou a abertura do caso, decidiu que fornecer esses briefings à campanha de Trump criava o risco de que "se alguém da campanha estivesse envolvido com os russos, ele provavelmente mudaria suas táticas e/ou procuraria encobrir suas atividades, impedindo-nos de encontrar a verdade".

Por outro lado, o relatório de Horowitz aponta que os investigadores falharam na condução da investigação ao fornecer informações imprecisas ou ao omiti-las para conseguir que outro investigado da equipe de Trump, Carter Page, fosse colocado sob vigilância eletrônica. "Na preparação dos pedidos da FISA (Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira) para vigiar Carter Page, a equipe do Crossfire Hurricane não cumpriu as políticas do FBI e, ao fazê-lo, ficou aquém do que é esperado por uma agência policial responsável por uma ferramenta de vigilância tão intrusiva", conclui o relatório, sem especificar se esses erros foram resultado de uma tendência política por parte dos investigadores.

O que Obama tem a ver com isso?

Oficialmente, nada. Porém, novas alegações vieram à tona depois que o caso Flynn voltou à mídia.

Memorandos de uma entrevista com a vice-procuradora-geral da administração Obama, Sally Yates, que vieram a público na semana passada, podem ser indicativos que Obama sabia, na época da transição, que Flynn estava sendo investigado pelo FBI. A ligação de Flynn com o embaixador russo teria sido um dos assuntos em uma reunião da equipe de segurança nacional de Obama em 5 de janeiro.

O relato levantou novas questões sobre um e-mail que Susan Rice, então conselheira de segurança nacional de Obama, enviou para si mesma em janeiro de 2017, com orientações sobre como informar a nova administração sobre a investigação da interferência russa. Aparentemente, o e-mail trata da mesma reunião a que Yates se referiu, mas foi enviado em 20 de janeiro de 2017, no dia em que Trump assumiu a presidência.

Rice escreveu que Obama disse aos participantes da reunião que "ao nos envolvermos com a equipe que está chegando, estejamos atentos a verificar se existe algum motivo para não podermos compartilhar informações amplamente no que se refere à Rússia".

Este e-mail foi revelado em 2018. Uma advogada de Rice disse que ela o escreveu seguindo o conselho da Casa Branca para criar um registro permanente da conversa, segundo o Washington Post. "Não fomos informados pelo [então] diretor [do FBI James] Comey ou pela procuradora-geral de que havia uma investigação ativa de alguém na órbita de Trump", disse Rice aos investigadores da Câmara em uma entrevista divulgada em 7 de maio.

Uma fonte do Senado disse à Fox News na segunda-feira que os republicanos da Casa estão analisando mais de perto esse e-mail. Atualmente eles estão apurando as origens da investigação Crossfire Hurricane.

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