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Entrevista

“Obrador decepcionará esquerda”

Cidade do México – Uma maneira de compreender o significado da presença de Manuel Camacho Solís no comando da campanha de Andrés Manuel López Obrador é imaginar o senador Antonio Carlos Magalhães dirigindo a primeira campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-chanceler e ex-cardeal do Partido Revolucionário Institucional, Camacho rompeu com o PRI em 1995. É, desde 2003, deputado federal pelo PRD de López Obrador. Quinta-feira, convencido de que seu candidato ganhará com sete pontos de vantagem, falou sobre as eleições. Leia trechos da entrevista:

Agência Estado – López Obrador será um Hugo Chávez ou um Lula?Manuel Camacho Solís – (A hipótese) Chávez está totalmente descartada. López Obrador não iniciou sua carreira com um golpe. Não há no México uma decomposição do regime ou a sensação de que os poderes da república tenham desaparecido. Não se questiona a legitimidade dos tribunais ou do Congresso. Os partidos estão fortes.

As forças de esquerda da coalizão que apóia López Obrador não complicarão sua vida em Los Pinos?López Obrador tem duas vantagens. Primeiro, a exemplo do que ocorreu com Lula, não há nenhum grupo de esquerda dentro de seu partido que ele não controle. Ele tem também o controle completo do PRD, o que lhe permite fazer o que já está fazendo, que é trabalhar com uma equipe não partidária. Haverá espaço para todas as correntes. Creio que a esquerda radical vai se decepcionar com López Obrador.

Será, então, um Lula...Será um homem que vai entregar a economia aos técnicos, pôr ordem no governo e nos sindicatos e levantar a autoridade e o poder do Estado para que os interesses especiais não continuem tendo a influência que têm. Diminuirão os privilégios. Os de baixo subirão.

Como?Uma medida que pretende tomar logo é estender a todos os 5 milhões de idosos do país a aposentadoria de 720 pesos (US$ 60) mensais, que introduziu como prefeito da Cidade do México. Isso custará US$ 3 bilhões.

Essa estratégia não justifica o temor de alguns analistas de que ele governará como líder messiânico?Isso é o que diz (o historiador) Enrique Krauze. López Obrador é um líder carismático, é popular. Com base nisso, inventaram frases sobre ele. Tudo o que ele está fazendo é pondo limites à influência dos grupos de interesses especiais, dos privilégios. Ele quer abrir mais a economia e frear os privilégios da burocracia e o tráfico de influência.

Como fará isso?O gasto do governo federal cresceu 2,4% em seis anos. Se economizarmos isso, financiaremos o programa social e faremos a economia crescer mais.

Como será a política exterior?Será prudente, de princípios. O ponto central serão as negociações com os EUA, começando pela revisão da cláusula do Nafta que abre o mercado mexicano em 2008 para importações de milho e feijão.

Haverá aproximação com Venezuela, Bolívia, Cuba?Não. Haverá boa relação com todos os países da América do Sul. Mas não haverá influência deles sobre nossas decisões nem haverá interesse nosso em exercer liderança na América do Sul.

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