O presidente em fim de mandato do México, Andrés Manuel López Obrador, expressou apoio nesta quarta-feira (25) à decisão da sua sucessora, Claudia Sheinbaum, de excluir o rei da Espanha, Felipe VI, da sua cerimônia de posse, marcada para 1º de outubro, e pediu a Madri que deixe “a arrogância e a prepotência” de lado e peça desculpas pela colonização.
Questionado durante sua coletiva de imprensa matinal sobre a decisão de Sheinbaum, o presidente mexicano alegou que a monarquia espanhola agiu com grande arrogância, uma vez que nunca respondeu à carta “respeitosa e formal” na qual solicitou um pedido de desculpas aos povos nativos do México pela colonização.
“Estamos falando de diferenças com a monarquia espanhola, a quem foi solicitado, foi pedido de forma respeitosa, que oferecesse um pedido de desculpas aos povos nativos, aos povos indígenas do México pelas atrocidades cometidas durante a invasão europeia do nosso país e não houve uma resposta”, disse López Obrador.
O presidente esquerdista argumentou que, além de não haver resposta, foi desencadeada uma “campanha” contra seu governo.
“E agiram com muita arrogância, nunca responderam uma carta respeitosa e formal, enviaram seus porta-vozes, até mesmo seus intelectuais orgânicos. Lembro que o senhor [Mario] Vargas Llosa [escritor peruano radicado na Espanha] se lançou com muita força, e outros nos programas de rádio da Espanha, na televisão espanhola, nos insultando”, afirmou.
Nesse contexto, deixou claro seu apoio à decisão de Sheinbaum de não convidar a monarquia espanhola para sua posse.
“Eu apoio a presidente eleita. Se ela já tem uma posição, eu assino embaixo, apoio, porque tenho muita confiança na presidente eleita”, assegurou.
No entanto, alegou que a situação nada tem a ver com a amizade com o povo espanhol que, segundo disse, “é um povo trabalhador, um povo bom, um povo que sofreu em vários momentos da história”.
Por fim, o presidente afirmou que a Espanha deve contar a história de uma forma diferente, além de “deixar de lado o racismo”, que atingiu “até mesmo” os espanhóis que fizeram fortuna no México e depois voltam para se aposentar em seu país e, segundo López Obrador, são insultados pelos seus próprios compatriotas.
“Como você acha que eles são chamados na Espanha? Índios. Não estou falando dos mexicanos, dos pobres, não, estou falando de pessoas muito ricas que com esforço, repito, trabalharam de acordo com a lei aqui neste país e fizeram fortuna”, comentou.
A reação de López Obrador ocorre poucas horas depois da coroa espanhola ter criticado o fato de Sheinbaum ter convidado apenas o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, para a posse no dia 1º de outubro.
Segundo Sheinbaum, a recusa em envolver Felipe VI no evento ocorreu porque o monarca não respondeu à carta que López Obrador lhe enviou em 1º de março de 2019 para solicitar que, em vista da celebração dos 200 anos de independência do México, “expressasse de forma pública e oficial o reconhecimento dos agravos causados” pela colonização.
A ausência de um representante da coroa da Espanha na posse de Sheinbaum é um novo momento de tensão bilateral desde que López Obrador declarou, em fevereiro de 2022, uma “pausa” nas relações devido aos abusos que denuncia terem sido cometidos por empresas espanholas no México, principalmente no setor de energia.
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