As potências ocidentais exigiram nesta quinta-feira (22) que a Síria conceda aos peritos em armas químicas da ONU acesso imediato aos subúrbios de Damasco sob controle dos rebeldes, onde gás venenoso aparentemente matou centenas de pessoas a poucos quilômetros do hotel da equipe da entidade.
Não há sinal, no entanto, de que a equipe da ONU consiga em breve colher amostras das cenas de horror que provocaram comparações com o uso de gás letal contra milhares de curdos iraquianos em Halabja em 1988.
Adversários do presidente sírio, Bashar al-Assad, disseram que o total de mortos estava entre 500 e bem mais de 1.000, e que mais corpos estavam sendo encontrados após o aparecimento de uma misteriosa fumaça letal na madrugada de quarta-feira, que o governo sírio insiste em dizer que não é responsável.
Continua improvável que as conversas, principalmente da França e da Grã-Bretanha, sobre uma resposta estrangeira rigorosa resultem em uma ação rápida e conjunta, devido à oposição russa e à profunda cautela dos Estados Unidos.
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, disse que as potências mundiais devem responder com força se as alegações de que o governo da Síria foi responsável pelo pior ataque químico contra civis em meio século se mostrarem verdadeiras. Mas até mesmo Fabius destacou que não havia chance de enviar soldados por terra.
A Grã-Bretanha disse que nenhuma opção "que pudesse salvar vidas inocentes na Síria" deveria ser descartada. Mas as forças europeias pouco podem fazer sem a ajuda dos EUA, e Washington mostra pouco apetite para a guerra.
Autoridades sírias descreveram as alegações contra suas forças de "ilógicas e fabricadas", apontando para o momento do ataque e suas afirmações anteriores de que, se possuíssem armas químicas, nunca as usariam contra sírios.
A Rússia, principal aliada de Assad, apontou o dedo para uma "provocação" de rebeldes ávidos para atrair assistência militar ocidental.
Depois de meses de negociações com o governo de Assad para permitir a entrada de inspetores na Síria, uma equipe da ONU chegou a Damasco quatro dias atrás. A equipe tem a missão de checar a presença, mas não as fontes, de armas químicas que supostamente foram lançadas em três incidentes pequenos e específicos vários meses atrás.
A equipe não tem mandado além disso. Dividido, o Conselho de Segurança da ONU reuniu-se em sessão de emergência na quarta-feira, mas não conseguiu endossar uma pressão do Ocidente para uma inspeção imediata dos locais perto de Damasco. Pediu apenas "clareza" no acidente.
O governo da Síria não ofereceu uma resposta pública imediata aos pedidos na quinta-feira para que a equipe da ONU tenha acesso à área.
"Estamos sendo exterminados"
Muitos rebeldes e ativistas da oposição dizem que perderam interesse nas promessas de investigações da ONU e na ajuda de fora. "Estamos a 7 km de distância, a apenas 5 minutos de carro de onde eles estão", disse o ativista Bara Abdelrahman.
"Estamos sendo exterminados com gás venenoso enquanto eles bebem o café deles e sentam-se em seus hotéis".
Qassem Saadeddine, comandante e porta-voz do Conselho Militar Supremo dos rebeldes, disse que o grupo ainda deliberava sobre como ou se deveria responder ao ataque.
"As pessoas estão ficando cada vez mais desesperadas enquanto assistem a outra rodada de declarações políticas e reuniões da ONU sem nenhuma esperança de ação", disse ele à Reuters.
"Estamos analisando como os rebeldes deveriam responder".
A revolta da Síria contra quatro décadas de governo da família Assad se transformou em uma brutal guerra civil que já matou mais de 100 mil pessoas em dois anos e meio e dividiu o Oriente Médio em amplas linhas sectárias. Entre as potências mundiais, o conflito reviveu as tensões da Guerra Fria entre Ocidente e Oriente.
As potências ocidentais apoiam a oposição, mas estão relutantes em se comprometer totalmente com uma revolta cada vez mais dominada por islâmicos ligados à Al Qaeda. Mas disseram que o uso em larga escala das banidas armas químicas poderia ser um fator que mudaria o jogo.