Buenos Aires O caso "Skanska", o maior caso de corrupção conhecido do governo do presidente Néstor Kirchner envolvendo o superfaturamento na construção da ampliação de gasodutos com a bênção de organismos governamentais e do fundo fiduciário estatal contaria com uma "seqüela". Além disso, a empreiteira brasileira Odebrecht foi acusada de participar do que já está sendo chamado "Skanska 2". As afirmações foram feitas ontem pelo jornal "Perfil".
Na primeira etapa o "Skanska 1" o superfaturamento teria sido de até 135% do preço inicialmente orçado entre as empresas que participavam das obras licitadas para a ampliação dos Gasodutos Norte (TGN) e Sul (TGS). O escândalo que levou a empresa sueca Skanska a admitir que havia pago "comissões indevidas" (embora sem dizer a quem) provocou a remoção de funcionários de segundo escalão do governo Kirchner, suspeitos de terem autorizado o custo "extra". No entanto, Kirchner afirma que o caso de corrupção ocorreu entre "privados", sem envolvimento do governo.
A ampliação dos gasodutos era parte crucial do plano do governo Kirchner para driblar a crise energética que desde 2004 pairava sobre o país (crise que concretizou-se neste ano). No "Skanska 2" segundo o "Perfil", o superfaturamento global teria sido mais sóbrio, de 35%. O jornal acusa o Ministro do Planejamento e Obras, o poderoso Julio De Vido (braço direito de Kirchner na área econômica) e a empreiteira brasileira Odebrecht que assinou o contrato concessão da obra em dezembro passado de estarem por trás da operação do sobrepreço, em um total de US$ 486 milhões. Na ocasião, o governo aprovou os contratos entre a Odebrecht e as empresas atacadistas de energia da Argentina, a Cammesa e a Albanesi.
O orçamento oficial para essas obras estipulado pelo organismo fiscalizador do setor, o Ente Nacional Regulador de Gás (Enargás) havia sido de US$ 1,386 bilhão. No caso da Cammesa, o desvio foi de US$ 349 milhões; enquanto que o de Albanesi, segundo o "Perfil", foi de US$ 137 milhões.
O jornal cita fontes do Enargás que relativizam o superfaturamento, e ressaltam que independentemente de como seja chamado, "são as regras do jogo". As fontes mostraram um pragmatismo explícito, segundo a declaração em off citada pelo "Perfil": "Se a Odebrecht não está (na obra), não há financiamento. Sem financiamento, não há obra. E o preço desse serviço não é o governo quem coloca, mas sim o mercado".
O "Perfil" foi o responsável pela maior parte de denúncias de casos de corrupção da administração Kirchner, incluindo o "Banheirogate", affaire que em julho derrubou Felisa Miceli do posto de Ministra da Economia.