Para conseguir a construção de uma nova linha do metro de Caracas e outras obras na Venezuela, a empreiteira brasileira Odebrecht pagou pelo menos US$ 142 milhões (R$ 546 milhões) em propinas para altos oficiais da Venezuela, de 2011 a 2014.
A informação foi revelada por jornalistas do Miami Herald e El Nuevo Herald, com base em 13 mil documentos - até então não revelados - do sistema Drousys, usado pela Divisão de Operações Estruturadas da Odebrecht para facilitar as práticas de corrupção. Os dados vazados foram obtidos pela empresa de comunicação equatoriana La Posta e a análise foi feita por 19 organizações de imprensa na América do Sul, liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês).
De acordo com a reportagem, pelo menos R$ 92 milhões foram canalizados através de uma empresa offshore chamada Cresswell Overseas S.A., cujo beneficiário é o venezuelano Leopoldo Briceño Punceles, que possui propriedades e negócios em Miami. Vários dos registros identificam as transações como honorários de consultoria.
Delgado Conteras, um advogado venezuelano, foi identificado como o operador desta conta. Em depoimento para a Lava Jato no Brasil, Alessandro Cesar Dias Gomes, um funcionário da Odebrecht na Venezuela, contou que estava encarregado da relação com Conteras, que recebia 2% de comissão em cada pagamento ou contrato que ele facilitava.
Conteras é suspeito de ser o "braço direito" do deputado da Assembleia Nacional Haiman El Troudi, segundo investigação da promotoria venezuelana no exílio. Os documentos vazados do sistema Drousys confirmam o envolvimento dele no esquema de corrupção. De acordo com a reportagem do Miami Herald, a Odebrecht fez vários pagamentos irregulares para projetos supervisionados por ele e por companhias ligadas a pessoas do seu círculo - ele foi já presidente do Metro Caracas e ministro dos Transportes da Venezuela.
Conteras e Briceños, de acordo com um dos advogados de Briceños, compartilhavam um negócio “cobrando dívidas” para a Odebrecht. Eles dividiram os lucros entre a Cresswell Overseas e outra offshore chamada Alfa International, como revelou o Miami Herald. Ambos dizem que não fizeram nada de errado por aceitar pagamentos da Odebrecht por meio de offshores e que não repassaram o dinheiro a nenhum membro do governo chavista. Contudo, depoimentos de executivos da Odebrecht à investigação brasileira indicam que a propina passava adiante, inclusive para oficiais do governo venezuelano.
A Odebrecht já havia admitido o pagamento de US$ 98 milhões em propinas a oficiais do governo Hugo Chávez e seu sucessor, Nicolás Maduros. Os projetos, em sua grande maioria, nunca foram finalizados, assim como a prometida nova linha de metro de Caracas - que custou US$ 34 milhões em propinas para a Odebrecht e que até agora só tem uma estação construída, de nove planejadas.
Odebrecht na América do Sul
A investigação também revelou detalhes sobre os esquemas de corrupção da Odebrecht na América do Sul. Segundo o Icij, a empreiteira brasileira pagou mais de US$ 39 milhões para conseguir o contrato de construção da gigante usina a carvão de Punta Catalina, na República Dominicana; US$ 3 milhões relacionados a um gasoduto no Peru durante a gestão do ex-presidente Ollanta Humala - que já esteve preso por corrupção; e US$ 18 milhões ligados ao sistema de metrô na Cidade do Panamá. Os jornalistas também encontraram e-mails discutindo pagamentos secretos que um banco de operários da Odebrecht fez a empresas-fantasmas relacionadas à construção de um sistema de metrô de US$ 2 bilhões para a capital do Equador, Quito.
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