Eles vieram em dezembro para enterrar a guerra: clérigos e xeques, crianças e viúvas de toda esta cidade marcada pelo combate. À sombra de um viaduto, eles balançaram cartazes, queimaram bandeiras dos Estados Unidos, exibiram fotos de seus mortos e gritaram denúncias batidas contra as forças americanas, que estão em retirada.
"É um festival", disse o xeque Hamid Ahmed Hasham, líder do conselho regional, cujos quatro antecessores foram assassinados.
Fallujah, que já foi um inferno da guerra no Iraque, está ansiosa para dizer adeus aos nove devastadores anos de incursões, bombardeios e combates urbanos de casa em casa.
Pelo menos 200 soldados dos Estados Unidos foram mortos na cidade. E milhares de iraquianos morreram, entre eles civis e insurgentes todos lembrados como mártires.
Hoje, Fallujah é uma cidade que busca desesperadamente a normalidade.
Chamados para preces soam nos minaretes onde atiradores insurgentes costumavam se entocar. Casas opulentas surgem em meio a campos de destroços, construídas por xeques, empreiteiros e qualquer um que tenha se beneficiado, ilegalmente ou não, das enormes quantias de dinheiro dos Estados Unidos que fluíram para dentro do Iraque durante a guerra.
No entanto, em meio à reconstrução, Fallujah continua ilhada entre o passado e o presente, e a ira da cidade em relação aos americanos quase certamente persistirá.
Esse legado está visível em paredes de concreto cravejadas de buracos de balas e cicatrizes de estilhaços, em prédios residenciais ainda destroçados e empilhados no chão.
Ele está visível nos rostos de viúvas que encheram os degraus do lado de fora de um centro educacional islâmico no dia 14 de dezembro, que marcou o evento do Dia da Resistência e da Liberdade, balançando fotos de seus maridos e filhos mortos e exigindo indenizações pelas perdas sofridas.
Sofrimento
"Estamos cheias de dor", disse Turkiya Fehan. Ela apontou para uma foto de seu filho, Mohammed, de 19 anos, morto em 2004.
Mustafa Kamel, de 16 anos, conta que, ao voltar da escola a pé há cinco anos, ficou preso em meio a um tiroteio entre as forças dos EUA e os insurgentes, e levou um tiro no pescoço. Seu ferimento o deixou paralisado, mas a experiência também o presenteou com um conjunto muito específico de objetivos. Um: tornar-se médico. Dois: voltar a andar. E três: "Eu pediria a Deus para permitir que você veja do que sofrem as pessoas em Fallujah. Que você sofra como eu sofro".