Repercussão
Operação militar planejada pelos EUA divide opiniões
A expectativa pelo sinal verde para a operação mobilizou atores contra e a favor da intervenção. Entre os favoráveis, o Reino Unido antecipou o fim do recesso de verão do Parlamento para convocar, amanhã, um debate seguido de votação sobre uma resposta militar. Em Paris, o presidente francês, François Hollande, disse estar pronto "para punir aqueles que tomaram a decisão atroz de usar gás tóxico contra inocentes". A Alemanha, por sua vez, manteve um perfil discreto: na segunda-feira, o governo dissera estar "avaliando a situação".
Entre os opositores à ofensiva militar, estão os maiores aliados de Assad: Rússia e Irã. Ambos cobraram provas que incriminem o regime sírio e advertiram para os riscos de um confronto regional.
Essa expectativa também mergulhou a região numa guerra de advertências. Em Damasco, o chanceler sírio, Walid al-Muallem, voltou a negar o uso de armas químicas e afirmou que seu país vai reagir caso seja agredido.
"Todos ouvimos ao redor os tambores da guerra. Querem atacar a Síria e utilizar a mentira das armas químicas, que é uma falácia. Eu os desafio a mostrar provas. A Síria vai reagir de todas as maneiras possíveis", disse Muallem.
1.300 pessoas morreram, segundo a oposição síria, no ataque com armas químicas ocorrido semana passada em Ghouta, na Síria. Os EUA não têm dúvidas de que a responsabilidade pelo ataque é do presidente Bashar Assad.
Líbano teme os ecos da intervenção contra Assad
Chanceler libanês veio a público para dizer que ofensiva dos EUA na Síria terá "repercussões negativas" na região
Uma intervenção militar na Síria ficou iminente depois de os Estados Unidos assegurarem o apoio contundente de seus principais aliados europeus Reino Unido e França e de a Liga Árabe condenar veementemente o regime de Bashar Assad pelo uso de armas químicas contra civis nos arredores de Damasco na semana passada.
Extraoficialmente, a Casa Branca já informou o Congresso da intenção de usar a força, e o secretário de Defesa, Chuck Hagel, garantiu que o Pentágono está pronto para agir imediatamente. O início da operação depende apenas da escolha, pelo presidente Barack Obama, do melhor plano de ação e da articulação final da coalizão ocidental.
A intervenção deverá ser cirúrgica e de curta duração, sem o deslocamento de tropas por terra, e visa apenas a minar as capacidades militares de Assad, não derrubá-lo.
Sem garantias de segurança na Síria, na segunda-feira, os inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) deixaram de vasculhar os locais dos ataques químicos na região de Ghouta, próximo a Damasco, adiando o recolhimento de amostras de sangue e ambientais que embasarão a avaliação das Nações Unidas. Mas a ofensiva militar não vai esperar a conclusão dos trabalhos e, possivelmente, nem mesmo o relatório que a Inteligência norte-americana prepara para o fim desta semana com evidências tangíveis de uso de armas não convencionais pelo regime de Assad, no último dia 21.
O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, reforçou a avaliação do governo, já exposta na véspera pelo secretário de Estado, John Kerry, de que a base para um ataque à Síria está dada. "Armas químicas foram usadas, todos [no mundo] reconhecem, e não há dúvida sobre quem é o responsável por utilizá-las", disse Biden.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, também deixou poucas dúvidas de que o governo dos EUA já tomou a decisão de intervir militarmente na Síria e que Obama estuda apenas a melhor forma de fazê-lo. Entre as muitas especulações sobre a data do possível ataque, especialistas ouvidos pelas imprensas europeia e israelense apostaram que a ofensiva poderia durar cerca de 48 horas, sendo lançada durante a noite e, provavelmente, não antes do fim de semana uma vez que até domingo a equipe de especialistas da ONU ainda estará na Síria.
"As deliberações em curso não são sobre se houve ou não uso de armas químicas na Síria em escala significativa, nem sobre se o regime sírio é responsável. São sobre qual a resposta apropriada a esta clara violação das normas internacionais", afirmou Carney.
Mapa-múndi
Enquanto cresce no Ocidente a pressão por uma intervenção internacional na Síria, e um ataque parece questão de tempo, os países aliados ao regime de Bashar Assad pedem prudência e advertem que uma guerra poderia ter consequências catastróficas para a região
Estados Unidos
O secretário de Defesa Chuck Hagel garantiu ontem que os militares americanos estão prontos para agir caso o presidente Barack Obama dê uma ordem de ataque à Síria. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, acusou o governo sírio de usar armas químicas contra a sua população em bombardeios no dia 21 de agosto, que teriam deixado até 1.300 mortos, de acordo com a oposição. Kerry alegou que o regime de Assad tinha as armas e os meios para usá-las, e que, ao atacar as áreas atingidas, ocultou provas.
Reino Unido
Amanhã, o Parlamento britânico votará se o país pode intervir militarmente no território sírio, em uma sessão solicitada pelos trabalhistas. Os legisladores britânicos abreviaram o fim das férias em razão da crise na Síria e de apelos da oposição, que quer explicações antes de qualquer intervenção. O primeiro-ministro, David Cameron, disse ontem que um suposto ataque com armas químicas na Síria é "absolutamente repugnante" e que a Grã-Bretanha considera "uma resposta proporcional". O chanceler William Hague havia afirmado que o ataque poderia ocorrer sem aprovação do Conselho de Segurança da ONU.
Alemanha
Insinuou pela primeira vez estar favorável a uma retaliação militar. O governo de Angela Merkel disse ter evidências críveis do uso de armas não convencionais na Síria, algo que "deve ser punido e não pode ficar sem consequências".
França
O presidente François Hollande telefonou para Obama no fim de semana passado e disse apoiar uma ação militar. Segundo ele, "todas as opções estão sobre a mesa" e "tudo vai acontecer nesta semana".
Austrália
Apoia a operação contra a Síria. "Não acredito que o mundo pode simplesmente fechar os olhos para o uso de armas químicas contra a população civil, resultando em cerca de 300 mortes ou mais e cerca de 3.600 pessoas hospitalizadas", disse o primeiro-ministro Kevin Rudd, após conversa com Obama.
Israel
Tenta se manter neutro e não apoia uma ofensiva por temer retaliações. O presidente Shimon Peres pediu que a Organização das Nações Unidas (ONU) designe a Liga Árabe para criar um governo temporário capaz de acabar com o conflito.
Liga Árabe
Grupo responsabilizou o governo sírio pelo ataque químico e disse que os autores do crime devem enfrentar a justiça internacional. Em um comunicado divulgado após uma reunião ontem no Cairo, a organização apelou aos membros do Conselho de Segurança da ONU para superar suas diferenças e tomar medidas necessárias para acabar com "as violações e crimes de genocídio que o regime sírio vem cometendo há mais de dois anos".
ONU
Secretário-geral Ban Ki-moon afirmou não poder deixar impune "um grave crime contra a humanidade".
Turquia
O chanceler Ahmet Davutoglu disse que participaria de uma coalizão internacional contra Assad se a ONU não conseguisse sanções para punir a Síria. Davutoglu classificou o ataque químico de um crime contra a humanidade. "Crime contra a humanidade não deve ficar sem resposta, o que precisa ser feito deve ser feito, é claro que a comunidade internacional enfrenta um teste", disse.
Rússia
Contra a intervenção. O chanceler Serguei Lavrov advertiu que os países ocidentais não têm provas de que o regime sírio esteja por trás do ataque químico. Para ele, o uso da força sem o aval do Conselho de Segurança é uma "violação rude da lei internacional". O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Alexander Lukashevich pediu à comunidade internacional prudência. "Tentativas de desconsiderar o Conselho de Segurança mais uma vez, criando desculpas artificiais sem embasamento para uma intervenção militar na região, vão produzir mais sofrimento na Síria e consequências catastróficas para outros países do Oriente Médio e Norte da África", disse.
China
A agência de notícias oficial da China comparou o cenário atual ao do período que antecedeu a Guerra do Iraque, cujas alegações americanas sobre a existência de armas de destruição em massa acabaram sendo falsas.
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