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Uribe não teve uma ad­­mi­­nis­­tração particularmente bri­­lhante no que se refere à lu­­ta contra a corrupção, ape­­sar de sempre proferir um dis­­curso supostamente "con­­tra a politicagem", e se pode ques­­tionar seus sucessos em equi­­dade econômica e jus­­tiça so­­cial.

Após oito anos de governo de Álvaro Uribe, é importante falar tanto de suas qualidades quan­­to de seus defeitos. Um das maiores vitórias do nosso atual presidente foi proteger os cidadãos frente à ameaça guerrilheira. Antes de Uribe, durante o governo de Andrés Pastrana (1998 –2002), as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), em menor medida, estavam crescendo e ficando mais audazes. Estes grupos co­­metiam atentados diariamente nas principais cidades da Co­­lômbia. Uribe conseguiu empurrar as guerrilhas para a selva e causar a elas golpes muito duros. Durante o atual governo, a guerrilha perdeu terreno, interlocução e protagonismo nacional e internacional.

Some-se a isto a desmobilização de um importante número de combatentes paramilitares de ultradireita, embora com várias falhas de execução. Os paramilitares se recompuseram recrutando gente de última hora e desmobilizando estas pessoas poucos meses depois e os benefícios do programa de desmobilização acabaram nas mãos de outras pessoas.

Alguns comandos nunca se desmobilizaram, e parte dos paramilitares acabaram se rearmando. Algumas estimativas apontam que mais de 3 mil ex-combatentes voltaram a lutar. Uribe também falhou em combater a "paraeconomia" – pessoas que financiaram os paramilitares.

Além disso, a extradição para os Estados Unidos de vários chefes paramilitares acusados de narcotráfico (Salvatore Mancuso e Don Berna são os exemplos mais famosos) minou a credibilidade do governo como interlocutor entre a sociedade e os paramilitares. Por não cumprir com suas promessas, outros grupos armados provavelmente duvidaram da palavra de governo em negociações futuras.

Por outro lado, nos anos re­­centes a economia cresceu e a inflação baixou. Em parte, este índices favoráveis são consequência das condições melhoradas de segurança – que estimularam o investimento a criação de empresas.

Mas a maneira Uribe de governar afetou negativamente o ba­­lanço de poderes, produzindo uma hipertrofia do poder Exe­­cutivo frente ao Legislativo e ao Judiciário. Uribe não somente debilitou as outras esferas do poder público: houve também abusos de poder policial para espionar magistrados, jornalistas e políticos de oposição. Tam­­bém foi negativa a polarização estimulada pelo presidente no país. Com frequência, o mandatário estigmatizou membros da oposição legalizada rotulando-os como "terroristas" e "amigos das Farc".

Uribe também se viu envolvido em escândalos de corrupção. O programa rural "Agroingresso Seguro", implantado entre 2007 e 2009, originalmente deveria favorecer os campesinos pobres, mas acabou beneficiando grande latifundiários e famílias in­­fluentes. Também houve na Colômbia o escândalo político "Yidispolítica", que foi a compra de votos no Congresso para a a aprovação da lei de reeleição. Uma região onde os filhos do presidente possuíam terrenos foi transformada em zona franca, o que valorizou astronomicamente o custo das propriedades. Uribe ainda manteve perto de si políticos de reputação duvidosa.

Em síntese, Uribe não teve uma administração particularmente brilhante no que se refere à luta contra a corrupção, apesar de sempre proferir um discurso supostamente "contra a politicagem", e se pode questionar seus sucessos em equidade econômica e justiça social. Não houve nos últimos oito anos uma redução significativa da desigualdade e da pobreza na Colômbia. O estilo administrativo de Uribe também teve efeitos negativos. Em algumas ocasiões, a destinação de investimentos públicos satisfez clientelas locais, em vez de obedecer critérios técnicos.

Futuro

Se Juan Manuel Santos, do Partido de la U ganhar as eleições, muito provavelmente seguirá a mesma linha de governo de Uribe. Ex-ministro da Defesa do atual governo, Santos passou toda a campanha eleitoral ressaltando a importância de manter o legado de Uribe. O candidato governista busca conquistar os eleitores apresentando-se como o verdadeiro herdeiro de Uribe.

Antanas Mockus, do Partido Verde, adota outra estratégia: enfatiza a transparência e a ho­­nestidade, assim como a educação. Também em sua campanha se mantém o mote uribista de seguir com a "linha dura contra as guerrilhas" (todos os candidatos atuais convergem para isto). Porém Mockus se separa de Uri­­be ao reafirmar o combate à corrupção e repudiar as formas tradicionais de fazer política, não parecendo ser adepto da noção de que o fim justifica os meios. Mockus também não quer dever favores a políticos de reputação duvidosa. Sua campanha é mais idealista, e tem uma proposta de aumentar os impostos para os ricos como meio de propiciar uma melhor distribuição de renda.

Carlos Nasi Lignarolo é diretor de Pós-Graduação do Departamento de Ciência Política da Universidad de los Andes, em Bogotá (Colômbia).

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