Curitiba Cenas pouco conhecidas da Polônia, que foram o pano de fundo de uma fase decisiva da história da Europa, têm atraído a atenção de cerca de 400 pessoas por dia na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba. A exposição Caminhos à Liberdade, com cerca de 50 obras de fotógrafos poloneses, resgata o cotidiano das últimas três décadas do país.
Depois de ter suas cidades praticamente destruídas durante a 2.ª Guerra Mundial, a Polônia enfrentou 45 anos de domínio soviético, até 1990. Na exposição, que vai durar mais duas semanas, descobre-se por exemplo que a ditadura comunista punia os trabalhadores que não participavam das comemorações de 1.º de maio com demissão. Além disso, as fotografias mostram que o Exército voltava suas armas contra os estaleiros para executar líderes dissidentes.
Peso histórico
A exposição demonstra a importância do movimento Solidariedade, avalia o neto de poloneses João Kopytowski, desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná que visitou a mostra na última quinta-feira. O Solidariedade, criado há 25 anos, em 31 de agosto de 1980, deu respaldo à transição democrática na Polônia e apontou as fraquezas do comunismo russo à Europa.
"O mais importante é que o Solidariedade conseguiu vencer o comunismo sem violência", destaca Kopytowski. Em sua avaliação, a organização, que ganhou a adesão de 10 milhões de pessoas em dois anos, foi um exemplo de "perseverança, determinação e firmeza".
Para a filha de poloneses Henriqueta Domakoski, que visita a Polônia regularmente desde a década de 60, a exposição aponta as dificuldades enfrentadas pelos poloneses. "Depois da 2.ª Guerra, as cidades ficaram em ruínas. Com força e muita fé, os poloneses reconstruíram tudo. O Solidariedade é parte dessa determinação", avalia.
Preocupação
Apesar do reconhecimento da importância do Solidariedade, as comemorações ocorreram sem muito ânimo, diz o polonês Jersy Brzozowski, professor visitante da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Em sua avaliação, isso não significa que os poloneses não tenham consciência de seu papel no processo histórico que acabou diluindo a ditadura comunista. Para Brzozowski, o clima é de apreensão por causa de problemas como o desemprego de 17%.
Para o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, o Solidariedade não é o únido responsável pela redemocratização da Polônia e pela contenção da ameaça comunista. Ele se recusou a participar das comemorações na Polônia e disse à imprensa alemã que suas medidas pela redemocratização russa, a perestroika, é que foram determinantes. Se dependesse do Solidariedade, o comunismo seguiria seu curso, declarou.
Gdansk
O grupo de sindicalistas poloneses que comemorou os 25 anos do Solidariedade no local exato em que o acordo que legalizou o sindicato foi assinado, em Gdansk, preferiu não encontrar com o antigo líder da organização, Lech Walesa, nem com o atual presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski. Os sindicalistas passaram a noite no compartimento e, pela manhã, homenagearam as vítimas da repressão comunista. Eles preferiram ficar isolados, para que a manifestação não fosse interpretada como um ato de apoio à política atual ou ao contráditório Walesa, que é apontado como responsável pela divisão interna do Solidariedade e agora alega que está deixando o movimento por não se identificar mais com ele.
Brzozowski diz que esse quadro é um indício de que ainda há muito a se fazer e que o movimento histórico serve de inspiração, inclusive para a Polônia. Em sua avaliação, o domínio russo levou a vantagem durante quatro décadas porque as reações eram isoladas. Para o especialista, que atuou nos bastidores da organização, a mobilização determinou a mudança histórica.