Curitiba Mesmo com o pouco tempo de mandato dos primeiro-ministros de Israel, Ehud Olmert, e do palestino, Ismail Haniyeh, muitos começam a se questionar se os dois líderes irão deixar um legado positivo na solução do conflito na região. Tarefa bastante difícil, mas que seus antecessores Ariel Sharon e Yasser Arafat conseguiram, marcando a história dos dois povos na tentativa de chegar a um acordo de paz.
Apesar da falta de carisma de Olmert e Haniyeh em comparação a seus antecessores, ambos podem ser grandes líderes dependendo da maneira como atuarem, diz Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unesp e do Centro Universitário Ibero Americano. "Sharon era um político agressivo e se tornou um patrocinador da paz. Tudo é possível na política." Mas o destino de Olmert e Haniyeh vai depender de amadurecimento político, ou até mesmo se ambos resolvessem quebrar o atual padrão de negociação e criassem um novo, avalia.
O Hamas terá de escolher o seu caminho, diz Cristina. "Grupos como o ETA (organização terrorista basca), que não assumiram posição política, de negociação acabam por desaparecer. O Hamas precisa reconhecer Israel sem desagradar o eleitorado. Será uma readaptação do Hamas a uma nova esfera política."
Outro senão, aponta Cristina, é que a posição israelense "parece confusa, porque mesmo que o Hamas reconheça Israel, isso não significa que será positivo. Israel não parece disposto a negociar. Não se vê retórica de negociação dos dois lados."
Os dois líderes podem não ter grande respaldo da população, considera o cientista político pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Artur Zimerman. "Arafat, por exemplo, foi um líder bastante simbólico e será difícil alguém substitui-lo à altura." Olmert, avalia Zimerman, está há muito tempo na política, mas não tem currículo de militar, o que é raro no perfil de lideranças israelenses. "Ele sempre foi apagado politicamente, acredito que foi por falta de opção que ele assumiu o cargo de premier. Nem Haniyeh, nem Olmert serão grandes líderes."
O Hamas foi eleito com unanimidade, enquanto Olmert enfrenta um Parlamento pulverizado e pode ter dificuldade para governar, analisa Cristina Pecequilo.
Para Günther Rudzit, professor de Relações Internacionais da Faculdades Rio Branco, Olmert tem um histórico político considerável e graças a ele o Kadima pôde ser levado adiante sem a figura de Ariel Sharon. "Olmert trabalha com a política de modo mais prático, nos bastidores da negociação." Rudzit explica que o período é de acomodação e de tentativa de construir novas aberturas de diálogo. "A UE e os EUA não tinham canais de comunicação com o Hamas, uma vez que era considerado um grupo terrorista. É preciso conquistar a confiança aos poucos."
O que se verá, aponta Rudzit, é um período sem grandes acontecimentos. "O fato de o Hamas ter mantido o cessar-fogo já é um indicativo de diálogo.
Por Haniyeh ser considerado moderado, isso demonstra que não houve tentativa de radicalização do Hamas. Ou seja, foi um bom indicativo para a diplomacia internacional".