Genebra O Brasil terá de ceder em sua posição no setor industrial e aceitar cortes de mais de 60% de suas tarifas de importação. É o que sugerem os mediadores da Organização Mundial do Comércio (OMC), que ontem apresentaram suas propostas para tentar salvar a Rodada Doha. Em troca, os europeus incrementariam a abertura do mercado agrícola e os americanos aceitariam um teto de no máximo US$ 16,4 bilhões nos subsídios distribuídos anualmente.
A decisão, agora, é política. Para diplomatas, o Brasil e os países emergentes terão de avaliar se estão dispostos a pagar esse preço pelo que foi oferecido no setor agrícola. Sem um acordo entre os principais atores do processo e do fracasso da reunião de Potsdam, no mês passado, os mediadores da OMC foram convocados para apresentar suas propostas.
A proposta exige um pouco de todos. Mas críticos e diplomatas dos países emergentes apontam que o que está sendo pedido dos países emergentes em termos industriais vai além do que estava sendo proposto.
Em uma primeira leitura, o Brasil não esconde que ficou "moderadamente satisfeito" com a proposta do teto dos subsídios nos Estados Unidos, entre US$ 13 bilhões e US$ 16,4 bilhões. Os americanos queriam US$ 22,5 bilhões inicialmente, enquanto o Itamaraty pedia US$ 12,5 bilhões. Outra dúvida que fica é quanto ao acesso ao mercado europeu eles teriam de cortar de 66% a 73% de suas tarifas, mas poderiam manter produtos sensíveis.
O obstáculo será aceitar os cortes considerados profundos no setor industrial, algo que nem argentinos nem venezuelanos, entre outros países, parecem dispostos. Um negociador sul-africano considerou a proposta "inaceitável" e não escondia irritação.
"A proposta de abertura de mercados agrícolas oferece pouco para o preço que será cobrado", afirmou Celine Charveriat, da Oxfam, organização internacional voltada ao combate da pobreza. Segundo a entidade, os cortes de tarifas e subsídios agrícolas vão "na direção correta", mas ainda são "modestos" comparados aos esforços e "custos severos" que os países emergentes terão ao abrir seus mercados para industrializados.