A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus uma pandemia. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (11) durante coletiva de imprensa, após a organização evitar usar o termo por semanas.
Já foram registrados 118 mil casos, em 114 países com 4.291 mortes. A grande maioria foi registrada na China, onde a epidemia começou, mas há surtos mais ativos atualmente na Europa, na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, inclusive com casos de transmissão interna - entre pessoas sem históricos de viagem para os locais mais atingidos.
"A OMS está avaliando esse surto o tempo todo e estamos profundamente preocupados, tanto pelos níveis alarmantes de propagação e severidade quanto pelos níveis alarmantes de inação. Portanto, fizemos a avaliação de que o Covid-19 pode ser caracterizado como um pandemia", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da instituição.
No fim de janeiro, a OMS já havia declarado o novo coronavírus uma Emergência Pública de Preocupação Internacional, um mecanismo legal que permite à organização fazer recomendações sobre como os países devem lidar com a crise.
O que é uma pandemia?
Segundo a OMS, uma pandemia é declarada quando uma nova doença para a qual as pessoas não têm imunidade se espalha de pessoa para pessoa em várias partes do mundo, além do esperado e de forma muito rápida. No mês passado, o líder da instituição havia explicado que a decisão de usar a palavra "pandemia" para descrever uma epidemia é baseada em uma "avaliação contínua da propagação geográfica do vírus, da gravidade da doença que causa e do impacto que tem sobre toda a sociedade".
A H1N1, conhecida como gripe suína, por exemplo, foi reconhecida como uma pandemia pela OMS em 2009. A doença matou 284,5 mil pessoas naquele ano.
Mary-Louise McLaws, especialista em controle de infecções que já trabalhou como consultora da OMS, explicou ao The Guardian que a OMS declara uma pandemia com o objetivo de alertar as populações para não ignorarem os sintomas da doença e levá-la a sério, bem como para levantar dinheiro que auxiliará os países a responder a um grande número de casos. Porém, ela fez um alerta de que se a declaração de uma pandemia causar pânico global, o objetivo de tentar aumentar a conscientização sobre a doença pode ir por água abaixo, já que corre-se o risco de elevar o número de pessoas que buscam o serviço de emergência mesmo sem ter a doença e consequentemente aumentar os gastos dos países com atendimento e medicamentos.
"Pandemia não é uma palavra para usar de ânimo leve ou descuidado. É uma palavra que, se mal utilizada, pode causar medo irracional ou aceitação injustificada de que a luta acabou, levando a sofrimento e morte desnecessários", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
O que muda?
Ghebreyesus disse nesta quarta que descrever a situação da Covid-19 como uma pandemia "não muda o que a OMS está fazendo e nem o que os países devem fazer".
Ele pediu que os governos adotem "ações urgentes e agressivas" contra o coronavírus e disse que está vendo "níveis alarmantes de inação" em alguns países.
"Vários países demonstraram que esse vírus pode ser suprimido e controlado", disse ele, citando o declínio de novos casos na China e na Coreia do Sul. "O desafio para muitos países que agora lidam com grandes grupos ou transmissão interna não é se eles podem fazer o mesmo - é se eles farão".
A OMS ressaltou que, como entidade, não interfere no modo de agir de cada nação. Ainda assim, pediu aos governos para aumentarem o número de funcionários de seus sistemas públicos de saúde, por conta da epidemia.
Segundo Tedros, se os países detectam, testam, tratam, isolam, rastreiam e mobilizam seu pessoal na resposta ao coronavírus, aqueles com poucos casos podem impedir que esses casos se tornem transmissão interna. "Estamos nisso juntos para fazer as coisas certas com calma e proteger os cidadãos do mundo. É factível".
"A taxa de mortalidade do coronavírus se mostra muito maior do que de um influenza comum", ressaltou Ghebreyesus, em coletiva de imprensa no início desta tarde. "O que custa mais, o isolamento ou mortes e falência do sistema de saúde?", questionou.
Coronavírus avança na Europa
Casos da Covid-19 estão aumentando em diversos países do continente europeu. Segundo país da Europa com o maior número de infectados, a Espanha reportou mais 552 casos, elevando o total a 2.174, com 49 mortes.
Na Itália, país que decretou quarentena em todo o seu território, o número de casos confirmados chegou a 12.462, com pelo menos 827 mortes causadas pelo vírus - 196 apenas nesta quarta-feira. Uma das vítimas é o chefe de uma associação médica do norte da Itália. Roberto Stella tinha 67 anos e morreu de falência respiratória.
Além de Itália e Espanha, França e Alemanha completam o grupo de países europeus que ultrapassaram a marca de 1.000 infectados, com 1.784 e 1.629, respectivamente, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou nesta quarta-feira que, segundo especialistas, entre 60% a 70% da população mundial será infectada pelo coronavírus.
Outros países da zona do euro registraram aumento no número de casos nesta quarta-feira. A Holanda registrou 121 novos infectados, num total de 503 casos, enquanto a Bélgica teve suas três primeiras mortes confirmadas, com 382 casos.
No Reino Unido, o número de infectados pela Covid-19 saltou de 83 para 456, o maior aumento registrado pela região administrativa em 24 horas. A ministra da Saúde do país, Nadine Dorries, é um dos casos. O governo britânico confirmou, também, a oitava morte causada pelo vírus.
Índia
O Ministério da Saúde da Índia anunciou nesta quarta-feira (11) que suspenderá todos os vistos existentes até 15 de abril. A medida de contenção do coronavírus (COVID-19), que exclui diplomatas, funcionários da ONU e pessoas com visto de trabalho ou projeto, entrará em vigor a partir de sexta-feira (13).
Os estrangeiros com vistos que já estão no país não serão afetados pela medida. Já os estrangeiros que precisam viajar por razões "convincentes" foram aconselhados a entrar em contato com embaixadas em suas regiões.
EUA
O número de casos de coronavírus (COVID-19) nos Estados Unidos já passa de mil, incluindo 31 mortes. Mais de 25% dos novos casos foram anunciados na última terça-feira (10).
Pelo menos 38 estados relataram casos do vírus - o número mais alto está concentrado no estado de Nova York. Dezenove estados declararam estado de emergência.