A escala do pior surto de Ebola da história foi mascarada pelas famílias que ocultaram parentes infectados em casa e pela existência de "zonas ocultas" aonde os médicos não chegam, afirmou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A OMS emitiu um comunicado detalhando por que a epidemia no oeste da África foi subestimada depois das críticas de que reagiu muito devagar para conter o vírus mortífero, que agora se espalha sem controle.
Um mês atrás, especialistas independentes fizeram questionamentos semelhantes. Segundo eles, o contágio pode ser pior que o relatado porque moradores das áreas afetadas com suspeita de contaminação estão expulsando agentes de saúde e recusando tratamento.
Os relatos subestimados de casos é um problema especialmente na Libéria e em Serra Leoa. A OMS afirmou estar trabalhando agora com os Médicos Sem Fronteiras (MSF) e o Centro para o Controle e a Prevenção de Doenças dos Estados Unidos para produzir "estimativas mais realistas".
A chefe do MSF, que pediu para a OMS se empenhar mais, disse à Reuters em entrevista na última quinta-feira que a luta contra o Ebola está sendo minada por uma falta de liderança internacional e de habilidades gerenciais de emergências.
O estigma do Ebola coloca um sério obstáculo para deter o surto na Libéria, Guiné, Nigéria e Serra Leoa, que tiveram mais vítimas do que qualquer episódio anterior da doença, descoberta quase 40 anos atrás nas florestas do Zaire (hoje República Democrática do Congo).
"Como o Ebola não tem cura, alguns acreditam que seus entes queridos infectados ficarão mais confortáveis morrendo em casa", informou a OMS em nota. "Outros creem que cuidados em uma ala isolada levará à infecção e à morte certa. A maioria teme o estigma e a rejeição social aos pacientes e familiares quando um diagnóstico de Ebola é confirmado".