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A Assembleia Geral da Saúde, organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), realizou seu encontro anual recentemente. No discurso de abertura, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, urgiu a todos os Estados membros que priorizassem a saúde sobre divisões geopolíticas, argumentando que “somos uma grande família”. Ironicamente, a OMS trata Taiwan como um bastardo, constantemente “colocando o filho pra fora de casa”.
Taiwan fica a menos de 100 quilômetros da China continental. Apesar do fato de a ilha ser densamente populada (são 23 milhões de habitantes), Taiwan teve apenas 600 casos e 7 mortes de Covid-19 neste ano, até o momento. É ainda mais impressionante que Taiwan tenha conseguido conter o avanço da doença mantendo escolas e negócios abertos. Na verdade, os taiwaneses viram poucas mudanças em suas vidas. Na primeira metade do ano, enquanto muitos países enfrentavam recessões econômicas por conta de lockdownsgovernamentais, Taiwan viu sua economia crescer 1,5%. Agora, enquanto outros países enfrentam uma segunda onda da pandemia, a ilha não tem sequer um caso registrado nos últimos sete meses.
Como Taiwan conseguiu isso? Antes de mais nada, agiu cedo. Enquanto Pequim e a OMS estavam ocupados minimizando os riscos de transmissão do coronavírus, Taiwan tomou uma ação rápida quando soube do surto de uma pneumonia misteriosa em Wuhan. No dia 31 de dezembro de 2019, oficiais de saúde taiwaneses começaram a checar passageiros para sintomas de febre e pneumonia antes mesmo que essas pessoas desembarcassem das aeronaves. Taiwan também baniu a entrada de habitantes de Wuhan no dia 23 de janeiro.
Em segundo lugar, Taiwan foi efetiva em utilizar a tecnologia para diferenciar o tratamento das pessoas com base em seu grau de risco. Um exemplo: Taiwan lançou um Sistema de Quarentena no dia 14 de fevereiro. Viajantes completam suas declarações de saúde ao escanear um QR Code que direciona para um formulário online, seja antes da partida em direção ou da chegada ao aeroporto de Taiwan. Aqueles com baixo risco recebem um passaporte de entrada via SMS, para que possam passar pela imigração com facilidade, enquanto aqueles com alto risco “são quarentenados e rastreados pelos seus celulares, para garantir que fiquem em casa durante o período de incubação [do vírus]”. Essa abordagem orientada – ao contrário de lockdowns gerais – é o que muitos cientistas e oficiais de saúde ocidentais têm defendido na Great Barrington Declaration, uma petição pública que pede fim aos lockdowns e o retorno da vida ao normal (pré-pandemia), exceto para os grupos mais vulneráveis da população.
Outras ações efetivas em Taiwan incluem tornar testes facilmente acessíveis, rastreamento de contato (com possíveis infectados ou com pessoas comprovadamente infectadas), aumento dos recursos para a produção de máscaras e um racionamento de máscaras antes que a população tivesse a chance de estocá-las.
Taiwan é, sem dúvidas, uma das poucas histórias de sucesso na luta do planeta contra a pandemia da Covid-19. A nação mostrou como uma sociedade livre pode enfrentar a ameaça de uma pandemia sem infringir as liberdades individuais. Governos ao redor do mundo poderiam ter aprendido bastante com o controle efetivo da pandemia por Taiwan – se a nação tivesse permissão para compartilhar suas experiências na Assembleia Anual da OMS. No entanto, a OMS impediu Taiwan de participar da reunião devido a objeções da China comunista.
Por anos, Taiwan participou do encontro como observador – até que Tsai Ing-wen, presidente do PPD (Partido do Progresso Democrático), tornou-se a quarta pessoa eleita presidente democraticamente (e a primeira mulher) em 2016. Com medo de um movimento ainda maior de Taiwan em direção à independência, Pequim intensificou as campanhas contra a nação. O governo chinês insiste em tratar Taiwan meramente como uma de suas províncias, e nunca descartou tomar controle da ilha por meio da força – o exército chinês lançou mísseis em águas próximas ao território taiwanês depois da eleição de Tsai. Sob pressão de Pequim, a OMS basicamente expulsou Taiwan do órgão em 2016. Essa decisão teria ramificações significativas durante o surto de Covid-19 em 2019-2020.
Nos primeiros dias após a eclosão da doença, a OMS não considerou incluir Taiwan nas reuniões de emergência da organização, mesmo com a ilha se situando geograficamente próxima à China continental. De acordo com o Wall Street Journal, “Taiwan muitas vezes depende de informações passadas por terceiros, repassadas por governos amigos e ONGs” para coordenar sua resposta.
Enquanto o coronavírus começava sua disseminação na China, e então ao redor do planeta, a OMS ignorou, além de seus métodos bem sucedidos de contenção da pandemia, os avisos de Taiwan sobre transmissões de pessoa para pessoa. Ademais, a OMS passou a incluir os casos reportados por Taiwan nos números chineses, e continua a se referir à área como de alto risco – mesmo com os números de Taiwan sendo minúsculos quando comparados aos da China continental: 86.338 casos e 4.634 mortes.
Tedros Adhanom ainda não reconheceu publicamente o sucesso de Taiwan. Ao invés disso, ele tem feito malabarismos para elogiar Pequim, desviar a culpa do Partido Comunista Chinês e repetir o que Pequim prega, incluindo ignorar os primeiros relatos de que não havia riscos de transmissão de pessoa para pessoa. Ele continua elogiando a abertura e a transparência de Pequim, mesmo que, a portas fechadas, oficiais da OMS tenham mostrado frustração com a resposta demorada da China e a seletividade no compartilhamento de informações, que geralmente são repassadas apenas no último minuto. A falta de interesse do governo chinês em repassar informações com frequência, aliada à vontade da OMS de deixar Pequim ditar as ações da organização, impediram países do mundo todo de tomar ações efetivas para conter o avanço da pandemia em seus estágios iniciais.
Ao chamar a OMS de “órgão vital” para a China comunista, o presidente Trump tentou combater essa situação temporariamente suspendendo os financiamentos à organização, e posteriormente anunciando que os EUA retirariam sua participação da OMS em 2021. Parece que nem mesmo o enorme revés financeiro fez com que a OMS mudasse seu comportamento.
Em novembro, a OMS não apenas impediu Taiwan de comparecer ao encontro anual da organização como também instruiu seus censores a bloquear, na seção de comentários da transmissão da conferência, frases ou palavras das quais Pequim poderia não gostar. As palavras censuradas incluíam “Taiwan”, “Wuhan Virus”, “China Virus” e “TaiwanCanHelp” (TaiwanPodeAjudar). Parece que, em vez de escolher a saúde, como insiste que os outros países façam, a OMS escolheu deixar a política nortear suas decisões sanitárias.
A OMS deveria perceber que a organização em si é uma das grandes perdedoras da batalha contra a pandemia da Covid-19. As reverências patéticas da organização diante de Pequim e seu indesculpável tratamento com Taiwan durante uma crise sanitária global prejudicam severamente a credibilidade e a reputação do órgão de saúde. Se a OMS realmente quer conter a pandemia, e se quiser permanecer com um líder respeitável em crises de saúde globais, a organização deveria deixar a política de lado quando tomar decisões. Para começar, que tal deixar Taiwan falar?
* Helen Raleigh é empreendedora e contribuidora da revista The Federalist.
© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.