Reversão
Pressão popular faz senadores retirarem imunidade de colega
A pressão feita pela população levou o Senado a reavaliar no dia 28 de novembro o processo de cassação da imunidade de Victor Bogado. O Senado voltou atrás e, por unanimidade, retirou a imunidade do parlamentar. Agora o senador poderá responder na justiça por má conduta administrativa, fraude e cobrança ilegal de impostos. "Com o protesto, nós percebemos o poder que a população tem, quando unida por uma causa justa. Essa não é uma luta só em Assunção, mas em todo o Paraguai, e não irá parar após a decisão do Senado. Ainda há muita corrupção no país", afirma César Vega. O Paraguai, que foi governado durante 35 anos pelo governo militar de Alfredo Stroessner, cuja ditadura terminou em 1989, jamais havia passado por onda de insatisfação semelhante, com a manifestações populares.
Cinco meses após a onda de manifestações que tomou as ruas do Brasil, o "gigante" também acordou no Paraguai. Milhares de pessoas foram às ruas em novembro pedir a renúncia do senador Victor Bogado. O político é acusado de empregar na Câmara de Deputados, a qual já presidiu, uma sobrinha, a mãe dela e a babá das filhas. A babá também teria sido contratada como auxiliar administrativa na usina hidrelétrica de Itaipu, com salário de US$ 1,8 mil.
Mesmo com fortes acusações, os 23 dos 45 senadores paraguaios, incluindo Bogado, votaram a favor da preservação da imunidade parlamentar do senador colorado, impedindo que ele respondesse pelos crimes na justiça. Após a decisão, quase 20 mil paraguaios foram até o Congresso Nacional, em Assunção, pedir a renúncia de Bogado. Uma onda de protestos se espalhou pelas cidades paraguaias com marchas e passeatas.
O comércio também aderiu ao manifesto. Restaurantes, cafés, postos de combustíveis, shoppings e até taxistas colaram cartazes em seus negócios, dizendo que os 23 senadores que votaram a favor da preservação da imunidade de Victor Bogado não são bem vindos em seus estabelecimentos.
A iniciativa foi seguida em Ciudad del Este, cidade que faz fronteira com o Brasil. Para o estudante e empresário Rodrigo Garay, apesar de o comércio não depender da política, os paraguaios dependem. "A população está despertando, está cansada que os políticos nos tratem como ignorantes. Queremos mais transparência e justiça", afirma.
Manifestação
No final de novembro, um grupo de jovens de Ciudad del Este se reuniu na área central do município, pedindo o fim da imunidade do senador Victor Bogado. Os manifestantes expressaram seu repúdio aos senadores com discursos e encenações teatrais com personagens que imitavam os políticos.
De acordo com César Vega, gerente de uma concessionária de automóveis, a população não estará satisfeita apenas com a perda da imunidade. Eles querem também a renúncia e investigação dos outros senadores. "Estamos pedindo mais transparência, nós elegemos os políticos e agora queremos conhecer os resultados", frisa.
Nas manifestações, os paraguaios também pedem justiça nos concursos, pois os cargos ainda são muito ocupados por familiares dos parlamentares. "É necessário que quem passe realmente ocupe o lugar que tem direito, por mérito e não por indicação", defende Vega.
Para a paraguaia Gabina Gonzalez, gerente de uma padaria, os paraguaios estão mais atentos às decisões do governo, acompanhando e cobrando respostas e melhorias no país. "Os manifestos pacíficos comprovam que nós estamos acompanhando o Senado e esperamos o desenvolvimento do país de forma digna. São milhares de políticos corruptos, nossa luta é contra a corrupção, contra o desvio de verba pública".
Manifestações no Brasil pressionaram por mudanças
Em junho de 2013 o Brasil viveu uma de suas maiores ondas de protestos. Manifestações populares surgiram inicialmente em São Paulo, para contestar o aumento nas tarifas de transporte público e se espalharam por todo o país. Atos semelhantes surgiram em outras cidades brasileiras, passando a abranger temas como gastos públicos, má qualidade dos serviços de saúde e a indignação com a corrupção na política.
Os protestos entraram para a história do país, sendo considerada a maior mobilização popular desde o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. O início das manifestações foi marcado por cartazes com frases impactantes como "o Brasil acordou", máscaras e passeatas. No entanto, vândalos infiltrados em marchas pacíficas depredaram e roubaram vários locais, públicos e privados, transformando os manifestos em desordem.
Respostas
Em resposta às manifestações, o governo de São Paulo revogou os reajustes de R$ 0,20 no transporte coletivo, fazendo a passagem voltar a ser de R$ 3. O governo brasileiro anunciou medidas para tentar atender outras reivindicações dos manifestantes e o Congresso Nacional votou uma série de propostas de apelo popular, como tornar a corrupção crime hediondo, arquivar a chamada PEC 37 (que retirava poderes do Ministério Público) e proibiu o voto secreto para cassação de parlamentares.
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