Os enfrentamentos entre polícia e saqueadores chegaram ontem à Grande Buenos Aires, após provocar duas mortes em Rosário, uma das três cidades mais importantes do país.
Os distúrbios começaram na quinta-feira pela manhã, em Bariloche, quando um grupo de encapuzados saqueou seis supermercados e enfrentou a gendarmería (polícia federal), enviada pela presidente Cristina Kirchner a pedido do governador da província de Río Negro.
Seguiram-se distúrbios nas cidades de Campana, Resistencia, Rosário e San Fernando, onde a polícia e os saqueadores se enfrentaram com pedras, pedaços de madeira e balas de borracha.
Os saqueadores levaram alimentos, eletrodomésticos e também roupas.
Os mortos em Rosário são uma mulher de 40 anos, que tentou entrar num supermercado chinês e levou um tiro na cabeça, e um jovem de 23 anos, vítima de um ferimento a bala no peito. Há mais de 300 pessoas presas devido aos conflitos.
O chefe de gabinete kirchnerista, Juan Manuel Abal Medina, acusou os líderes sindicais de causarem o levante e de quererem "quebrar este grande momento que está vivendo a Argentina".
Já o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, disse que os ataques eram ações criminosas graves. "Entendemos o protesto, entendemos as reclamações e apoiamos desde que se façam pelos canais correspondentes, atuar com a cara coberta e com paus e pedras é vandalismo."
E acrescentou que "não é a fome que motiva a que se roubem telas de plasma".
Para o analista político Marcos Novaro, o governo nacional não tem sabido lidar com o problema da pobreza no país. "Enquanto estão preocupados em levar adiante a batalha ideológica contra o Clarín e as grandes corporações, os verdadeiros dramas nacionais não recebem atenção", disse.
Novaro, porém, é cauteloso ao fazer paralelos entre a situação atual e as crises que levaram a saques nos anos 80, durante a hiperinflação da gestão Raúl Alfonsín, ou aos de 2001, que culminaria com o fim do governo Fernando de la Rúa.
"Elas começaram de forma parecida. Mas seria exagero colocar no mesmo nível agora. Não há o contexto de instabilidade política e econômica que havia nessas ocasiões", diz Novaro.