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ONG acusa força de elite de Maduro de ter assassinado 205 pessoas em 2018

Membros da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) vigiam a região do Hospital Infantil Dr. JM de los Rios em Caracas | FEDERICO PARRA/AFP
Membros da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) vigiam a região do Hospital Infantil Dr. JM de los Rios em Caracas (Foto: FEDERICO PARRA/AFP)

Uma força de elite da polícia venezuelana criada pelo ditador Nicolás Maduro foi responsável pelo assassinato de 205 pessoas em 2018 e se transformou em um "esquadrão da morte" a mando do regime, acusou uma ONG local nesta quinta-feira (31).

O comunicado do Provea (Programa Venezuelano de Educação e Ação em Direitos Humanos) aponta que a maior parte das vítimas morava em bairros pobres e que os agentes registraram as ações como "mortes por enfrentamento" ou "resistência a autoridade".

A criação das Faes (Forças de Ações Especiais) foi anunciada pelo próprio Maduro em 14 de julho de 2017, tendo como objetivo funcionar como um braço para operações táticas da Polícia Nacional Bolivariana.

O grupo teria sido idealizado pelo ministro de Interior e Justiça do regime, o militar Néstor Reverol, que já comandou a própria polícia.

Oficialmente, a atuação das Faes deveria se restringir ao combate ao crime organizado e ao terrorismo, mas o Provea afirma que ele se transformou em um braço de repressão do regime. "Toda a cadeia de comando das Faes deve ser investigada e sancionada pelos numerosos abusos contra os direitos humanos cometidos por este esquadrão da morte", disse a ONG. 

O próprio ditador indicou no discurso em que apresentou a nova força que ela poderia ser usado contra opositores, em especial contra o que ele classificou de "direita criminal e terrorista que tentou durante mais de cem dias fazer de nosso país um cenário de guerra para justificar uma intervenção estrangeira". Maduro se referia a onda de protestos contra seu governo que ocorreu no início de 2017. 

Inicialmente o grupo era formado por 80 agentes e funcionava em apenas três estados, mas seu contingente foi rapidamente ampliado e em julho de 2018 já eram 1.290 policiais atuando em diversas regiões .

Mortes

Foi exatamente a partir dessa ampliação que o número de mortes atribuídas às Faes começou a aumentar, de acordo com o Provea.

Das 205 execuções extrajudiciais confirmadas pelas ONG, 117 ocorreram em um período de três meses em 2018: 46 em setembro, 20 em outubro e 51 em novembro. As vítimas tinham entre 12 e 49 anos e a maioria eram homens - apenas cinco eram mulheres.

Há registros de morte atribuídas às Faes em ao menos dez estados: Lara (72 mortos), Distrito Federal (64), Zulia (25), Guárico (22), Miranda (8), Aragua (7), Carabobo (3), Táchira (2), Vargas (1) e Yaracuy (1).

O maior destes massacres teria ocorrido entre 8 e 11 de setembro em Lara, quando doze homens, com idade entre 12 e 49 anos, foram mortos por agentes da Faes. Oficialmente, as autoridades afirmaram que criminosos entraram em confronto com as forças de segurança.  

Além dos assassinatos em 2018, ao menos outras oito pessoas já teriam sido mortas por agentes do grupo em 2019 durante os protestos da oposição contra o governo Maduro, disse o Provea. 

A ONG não revelou o nomes das vítimas e nem deu muitos detalhes dos assassinatos, mas disse que na maior parte dos casos várias pessoas foram mortas de uma só vez.

Para o Provea, isso mostra que os agentes realizavam massacres contra a população mais pobre para evitar que uma revolta contra Maduro, em uma escalada de violência do regime.

"A ditadura reforça a resposta repressiva frente às demandas cidadãs e o descontentamento popular gerado pela fome, pelo crescimento da pobreza e pela indolência governamental", diz o texto da ONG.

Jornalistas liberados 

Os colombianos Maurén Barriga e Leonardo Muñoz e o espanhol Gonzalo Domínguez haviam sido presos na quarta-feira, enquanto cobriam os protestos anti-Maduro. O motorista que acompanhava Muñoz, José Salas, de nacionalidade venezuelana, também foi libertado da sede do Sebin, em Caracas.

Além deles, dois jornalistas franceses, Pierre Caillet e Baptiste de Monstiers, foram detidos segunda-feira à noite quando cobriam uma pequena manifestação do regime. Na manhã de quinta, eles foram levados por policiais para o aeroporto de Caracas para embarcar em um voo de volta para França, informou o embaixador francês no país, Romain Nadal.

Na última semana, com a intensificação da crise venezuelana, o chavismo deteve ao menos 13 jornalistas estrangeiros para esclarecimentos, inclusive um brasileiro. Segundo a Associação de Imprensa da Venezuela, ao menos 26 jornalistas foram atacados e 8 equipes de repórteres foram alvo de roubos no país nesse período.

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