Organizações humanitárias internacionais alertaram ontem que dezenas de pessoas estão sofrendo maus-tratos e torturas por parte de militantes nos centros de detenções da Líbia, algumas delas morrendo devido à falta de cuidados médicos. As ONU expressou preocupação sobre as condições dos pacientes presos.
A Anistia Internacional (AI) afirmou que seus funcionários testemunharam cenas muito chocantes em centros nas cidade de Trípoli, Misrata e Gheryan, com alguns presos com ferimentos abertos na cabeça, nas costelas e nas costas.
O alerta foi reforçado pela Médico Sem Fronteiras (MSF), que, segundo a emissora de tevê americana CNN, está interrompendo suas operações nos centros de detenção em Misrata porque os detidos no local são "torturados e têm atendimento médico negado".
A organização afirmou que tratou 115 pacientes em prisões com ferimentos relacionados a atos de tortura, sendo que alguns deles voltaram a ser agredidos quando receberam alta.
"Pacientes são trazidos para nós para receber atendimento no meio de sessões de interrogatórios para que possam aguentar mais perguntas depois", afirmou Christopher Stokes, diretor-geral da MSF.
"Isso é inaceitável. Nosso papel é prover tratamento médico para causalidades de guerra e doenças aos detidos, não tratar repetidamente os mesmos pacientes entre sessões de tortura."
Segundo um porta-voz da AI, os atos de tortura são realizados por autoridades reconhecidas do Exército e das forças de segurança, assim como por militantes armados com operações ilegais.
Reação
A ONU disse estar preocupada com os relatos e as condições dos pacientes presos. Segundo a alta comissária para os direitos humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, os detidos durante a guerra ocorrida na Líbia em 2011 travada entre forças rebeldes e o regime do então ditador Muamar Kadafi continuam sendo torturados, apesar dos esforços do governo para o fim de tal prática.
Pillay disse ao Conselho de Segurança na quarta-feira que se preocupa com os milhares de prisioneiros, em sua maioria acusados de serem leais ao regime de Kadafi, capturado e morto em outubro, e de serem mercenários provenientes da África Subsaariana.
Segundo ela, as informações foram coletadas pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) durante visitas realizadas entre março e dezembro de 2011 a mais de 8,5 mil detidos em cerca de 60 centros de detenção diferentes. "A falta de fiscalização pela autoridade central cria um ambiente propício à tortura e a maus tratos", disse. "Minha equipe tem recebido relatórios alarmantes que isso está acontecendo nos locais de detenção que visitou."