A crise de fome no Chifre da África (nordeste do continente) vai ser longa, previu ontem a subsecretária-geral para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, Valerie Amos. "Esta não vai ser uma crise curta. A ONU e seus membros esperam combater esta situação pelo menos durante os próximos seis meses", afirmou em um discurso em Genebra.
A organização decretou situação de crise de fome em duas regiões da Somália, mas não tem números concretos sobre a quantidade de mortos. Amos afirmou que, no Chifre da África, há 11,5 milhões de pessoas "que necessitam de assistência urgente", sendo 3,7 milhões na Somália.
"Se não atuarmos, esta crise de fome se estenderá ao resto do sul da Somália em dois meses, e seus efeitos podem se estender aos demais países da região", alertou a representante da ONU.
A ONU está pedindo ajuda financeira de US$ 1,9 bilhão para combater a situação na Etiópia, Quênia e Somália onde estão os principais focos da crise. Menos da metade do valor requisitado foi financiada até o momento.
Uma reunião de emergência para discutir a situação foi convocada pelo órgão para o próximo dia 25, a pedido da França. O encontro deve acontecer em Roma.
Nos centros de distribuição de alimentos e acampamentos da Somália, os soldados já estão usando a força para conter a briga das famílias pela comida distribuída.
O governo queniano expressou preocupação com o grande número de somalis fugindo da seca e sugeriu que os alimentos deveriam ser jogados no país com a ajuda de aviões. Dezenas de milhares de pessoas já foram buscar ajuda em campos de refugiados no Quênia e na Etiópia.
"Uma vez que os refugiados vêm para o Quênia, eles não querem voltar. Eles dizem que é melhor morrer no Quênia do que na Somália", disse o primeiro-ministro queniano, Raila Odinga.
Chance de paz
A fome na Somália representa uma chance para a busca por um acordo de paz no conturbado país africano, afirmou a comissária europeia de ajuda humanitária, Kristalina Georgieva.
"Talvez nós devêssemos olhar para essa crise como uma oportunidade para atrair mais a atenção do mundo para o que acontece na Somália", declarou Kristalina.
A comissária observou que uma ajuda emergencial de curto prazo para o país precisa ser acompanhada de programas que garantam a sobrevivência da população local em caso de novas secas no futuro.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) considera a seca na Somália e a crise de refugiados, provocada pela estiagem, "a mais grave emergência humanitária em andamento no mundo". A Cruz Vermelha Internacional adverte que uma em cada dez crianças do sul da Somália sofre de desnutrição aguda.