Mediação
Gestão do Brasil na crise é bem-vinda, diz Hillary Clinton
Folhapress
Em uma mudança de tom desde a tentativa do Brasil de mediar um acordo entre EUA e Irã, em 2010, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse ontem que o envolvimento brasileiro no processo de paz na Síria é "bem-vindo".
"Claro que daríamos as boas-vindas à participação do Brasil em qualquer esforço para obter um cessar-fogo na Síria e ajudar na transição política", afirmou Hillary ao lado do chanceler brasileiro, Antonio Patriota, após reunião em Washington.
Patriota disse que o Oriente Médio, de onde acaba de retornar, foi o foco do encontro de ontem entre os dois. Por ora não há tentativa de mediação brasileira em vista.
O chanceler afirmou depois que os EUA queriam o apoio brasileiro (já declarado) à decisão da ONU de enviar à Síria Lakhdar Brahimi como emissário para negociar um cessar-fogo.
Organizações civis estimam que 30 mil pessoas tenham morrido em 30 meses de guerra civil na Síria.
2,5 milhões de sírios necessitam de ajuda humanitária, segundo as Nações Unidas.
O Conselho de Segurança da ONU pediu ontem apoio de vizinhos da Síria à proposta de seu enviado especial, Lakhdar Brahimi, para um cessar-fogo entre as forças do regime sírio e os rebeldes. Em uma declaração aprovada por seus 15 membros, o Conselho também solicitou ao governo de Damasco que deixe entrar imediatamente e sem entraves a ajuda humanitária na Síria e a todas as partes do conflito que facilitem sua distribuição.
A embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, mostrou ceticismo com relação ao projeto de Brahimi. "Muitos são céticos, com propriedade, sobre a perspectiva de instaurar um cessar-fogo, embora temporário (na Síria), levando em consideração a longa lista de promessas não respeitadas por (Bashar) al Assad", declarou Rice após o relatório apresentado pelo mediador no Conselho de Segurança.
Washington "apoia firmemente" os esforços de Brahimi para conseguir uma trégua, "mas o governo (sírio) deve dar o primeiro passo", sustentou.
O corpo executivo das Nações Unidas considera que um cessar-fogo durante o feriado muçulmano de Eid al Adha conhecido como Festa do Sacrifício , entre 26 e 28 de outubro, pode constituir "um primeiro passo" para um fim permanente das hostilidades e rumo a uma transição política "realizada pelos próprios sírios".
Brahimi, enviado da ONU e da Liga Árabe para a Síria, anunciou ontem, no Cairo, ter obtido o acordo do regime e de vários dirigentes rebeldes a uma trégua a partir de amanhã. Mas as partes em conflito relativizaram o anúncio, com o governo de Damasco destacando que "a decisão final" será adotada hoje e os rebeldes afirmando que não observarão a trégua se o exército não cessar primeiro as hostilidades.
Rejeição
O grupo Jabhat al Nusra, que se utiliza de táticas inspiradas pela rede terrorista Al-Qaeda, rejeitou a proposta de cessar-fogo, classificando-a de "jogo sujo" e dizendo que não acredita que o ditador Bashar Assad vá cumprir a trégua. O comunicado foi veiculado no site do grupo na internet.