Grupo de cubanos residentes na República Dominicana protesta contra a ditadura de Cuba, em Santo Domingo, República Dominicana, 15 de novembro| Foto: EFE/ Orlando Barría
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O Escritório da ONU para os Direitos Humanos destacou nesta terça-feira a "necessidade de proteger, respeitar e promover a liberdade de expressão e opinião", e condenou as sanções contra jornalistas, após a decisão de Cuba de retirar as credenciais de profissionais da Agência Efe em Havana.

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No sábado, autoridades da ditadura cubana, sem aviso prévio, retiraram as credenciais de imprensa de jornalistas da equipe da agência de notícias, três redatores, um fotógrafo e um cinegrafista. A decisão foi tomada às vésperas dos protestos populares por mudanças políticas no país, que estavam marcados para a segunda-feira.

"Os Estados deveriam criar um ambiente em que o direito a buscar e receber informação esteja garantido, e em que as restrições ao trabalho dos jornalistas e da imprensa não sejam arbitrárias", afirmou a porta-voz do Escritório das Nações Unidas que é liderado pela chilena Michelle Bachelet, Marta Hurtado.

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Sem fazer menção direta a Cuba, a representante pediu aos governos que "cumpram com as normas internacionais" e destacou que direitos como a liberdade de expressão e opinião "estão fortemente inscritos nas leis internacionais sobre direitos humanos".

O governo da Espanha, a União Europeia, os Estados Unidos, dezenas de entidades civis e de jornalistas exigiram nos últimos dias que as autoridades da ilha caribenha devolvam as credenciais que permitem o trabalho de jornalistas da Agência Efe.

Um dia após a revogação das credenciais dos jornalistas, duas profissionais, uma redatora e uma cinegrafista, tiveram o direito de atuar reestabelecido. A medida foi considerada "insuficiente" pela presidente da Efe, Gabriela Cañas.

Em agosto, o coordenador de Efe em Havana também havia sido descredenciado. Além disso, está pendente há vários meses o visto de imprensa do novo responsável pela delegação da agência na capital de Cuba.

Sem explicações

No sábado, os responsáveis pelo Centro de Imprensa Internacional convocaram com urgência a equipe da Efe em Havana - que é composta por três redatores, um fotógrafo e um cinegrafista -, para comunicá-los da retirada das credenciais, sem explicar se a medida é temporária ou definitiva.

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As autoridades alertaram que a equipe da Efe não poderia mais realizar trabalho jornalístico a partir daquele momento, mas não explicaram os motivos que levaram à retirada do credenciamento dos profissionais.

A medida foi adotada em um momento delicado para Cuba, dois dias antes da passeata convocada pela oposição, que foi tornada ilegal pelo regime da ilha.

A presidente da Agência Efe, Gabriela Cañas, afirmou na segunda-feira que o que aconteceu em Cuba "é uma tentativa de silenciar a agência, o que não faz sentido, porque é uma agência pública que exerce o jornalismo mais rigoroso".

Essa é a primeira vez que Cuba retira as credenciais de jornalistas da Agência Efe, e não há informações de que tenha ocorrido decisão semelhante contra outra agência internacional de notícias que atue na ilha.

O embaixador da Espanha em Havana, Ángel Martín Peccis, está em contato desde o sábado com dirigentes cubanos, para negociar a restituição das credenciais de todos os profissionais da Efe, segundo confirmaram fontes oficiais.

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O Ministério das Relações Exteriores da Espanha convocou no domingo o encarregado de negócios da embaixada de Cuba em Madri, para pedir explicações sobre o caso.

EUA cobram devolução de credenciais

Os Estados Unidos consideram que o governo de Cuba retirou as credenciais dos jornalistas da Agência Efe em Havana para controlar sua imagem internacional e evitar que ela fosse "afetada" pelos protestos de segunda-feira.

O posicionamento foi revelado por um membro do alto escalão da Casa Branca. "Não importa se você está protestando se não há ninguém lá para ver o que você está reivindicando, e eu acho que o regime depende disso. Ele controla sua imagem internacional com muito cuidado para que ela não seja afetada", afirmou o funcionário.

"Portanto, a revogação das credenciais de alguns jornalistas é uma forma de garantir que nada fique fora do controle das ações do governo", acrescentou ele, que falou sob condição de anonimato a jornalistas que cobrem a Casa Branca.

A fonte também considerou as restrições à Efe como "outro exemplo" das tentativas da ditadura de Miguel Díaz-Canel de "questionar" o direito à liberdade de expressão.

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"Revogar as credenciais dos jornalistas da Efe poucas horas antes de um protesto pacífico é outro exemplo de como o regime questiona a liberdade de expressão, mas também mostra o que eles mais temem, que é que sua imagem seja afetada quando virem que os cubanos realmente querem mudar. Eles não querem deixar a ilha, eles querem mudar", declarou.

Os Estados Unidos já tinham reagido no fim de semana à notícia da retirada das credenciais dos jornalistas da Efe. No Twitter, o responsável pela área de América Latina no Departamento de Estado dos EUA, Brian A. Nichols, cobrou que o governo cubano restabelecesse "todas" as credenciais de imprensa à agência.

A decisão do governo cubano também provocou reações no Congresso dos Estados Unidos. Em entrevista à Efe na segunda-feira, o senador republicano Marco Rubio, da Flórida, disse que não ficou "surpreso" com a decisão do regime cubano.

"Essa ação antidemocrática deveria ser um alerta vermelho ao governo espanhol sobre como a ditadura de Díaz-Canel e Castro censura ativamente a livre expressão e a comunicação diante de protestos pacíficos dentro da ilha", afirmou.

Por sua vez, a ditadura cubana considerou que a manifestação pacífica convocada para esta segunda-feira foi uma "operação fracassada". Até o fim da tarde de segunda-feira, nenhum grupo de manifestantes havia sido visto nas ruas de Havana, e nenhum vídeo de grandes protestos em outras cidades do país foi publicado em redes sociais, apesar de muitos cubanos descontentes terem declarado a intenção de ir às ruas em massa.

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Repercussão

Diversas entidades condenaram a decisão da ditadura cubana de impedir o trabalho de jornalistas da Agência EFE.

A União Europeia (UE) exigiu no domingo que Cuba restitua "todas as autorizações e credenciais necessárias para os profissionais da agência. O Alto Representante da UE para Política Exterior, Josep Borrell, disse em comunicado que a decisão é "um passo a mais para frear o fluxo de notícias abertas e confiáveis desde a ilha". Ele afirmou que o bloco "faz um apelo para as autoridades cubanas, para garantir a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa".

A ação do regime de Cuba "é consistente com as práticas e políticas de uma ditadura", afirmou no domingo o diretor para Américas da ONG Human Rights Watch, José Miguel Vivanco. "Buscam garantir que o mundo não tenha registros e não possa registrar a realidade, porque, nas ditaduras, a realidade somente é a oficial", disse o dirigente da organização à Efe.

"Eles determinam a doutrina, e qualquer divergência é algo que reprimem e censura", completou Vivanco. Para ele, a decisão "não deve nos surpreender", porque é uma medida que "busca, por via da censura, também impedir que o restante do mundo se inteire do que aconteça em Cuba, e é algo repudiado pela comunidade internacional e sociedade civil".

O relator especial para Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Pedro Vaca, também condenou o descredenciamento dos jornalistas, descrevendo a decisão como "caprichosa e arbitrária", com "efeitos gravíssimos".

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"A arbitrariedade neste tipo de decisões é algo condenável, e nós convidamos às autoridades a reconsiderá-las", indicou Vaca. "É uma péssima mensagem para a comunidade internacional, que aconteça esse tipo de episódios. É uma mensagem de atraso, que coloca dúvidas sobre as garantias da cobertura jornalística em Cuba", afirmou Vaca.

Para o representante da CIDH, a retirada de credenciais acontece em meio a "um fenômeno de censura multidimensional" na ilha caribenha. "Acontece em um contexto em que são reportadas limitações, restrições e obstruções ao normal funcionamento da internet, e também para jornalistas cubanos há ocorrência de vigilância policial em suas casas", afirmou Vaca.

"Acho que há um efeito intimidador para o restante das agências de notícias e para o restante dos correspondentes estrangeiros", apontou o relator.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]