A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou nesta sexta-feira uma resolução que endossa o relatório apontando crimes de guerra por parte de Israel e do grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza, entre dezembro de 2008 e janeiro deste do ano. Mas, como uma retaliação, israelenses ameaçam paralisar as tentativas de relançar o processo de paz, jogando a negociação em uma nova crise. Ainda nesta sexta-feira, Israel deixou claro que pode retirar propostas de concessões territoriais na Faixa de Gaza.
Com 25 votos a favor, seis contra e 11 abstenções, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução que confirma o relatório elaborado pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, exigindo que investigações sejam realizadas pelas duas partes para identificar os responsáveis pelos supostos crimes de guerra
A resolução leva o tema para Assembleia-Geral e para o Conselho de Segurança da ONU para que, durante seis meses, monitore essas investigações. Se nenhum resultado for apresentado nesse período por Israel e pelos palestinos, o caso então iria para o Tribunal Penal Internacional - apenas em tese.
Rússia e China, dois membros do Conselho de Segurança, apoiaram a resolução. Mas um veto dos Estados Unidos no conselho certamente evitará que o caso vá para o Tribunal Internacional.
Polêmica, a resolução proposta pelos países árabes ia além do relatório do juiz. O próprio Goldstone afirmou ter ficado decepcionado com o uso político de seu trabalho de 575 páginas sobre o conflito, que deixou 1,4 mil mortos do lado palestino e 13 do lado israelense.
O levantamento conclui que Israel usou de forma desproporcional a força, atacou deliberadamente civis e destruiu a infraestrutura na Faixa de Gaza. Sobre o Hamas, o juiz o acusa de ter atacado de forma deliberada a população civil e disseminado o terror por meio de lançamento de mísseis.
A aprovação, porém, tinha uma motivação doméstica. Há duas semanas, quando o relatório foi apresentado, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, aceitou a proposta de americanos e israelenses e optou por adiar a aprovação do documento até março.
O Hamas, porém, partiu para o ataque contra Abbas, que foi obrigado a rever sua posição e pedir uma reunião de emergência da ONU. Em jogo, portanto, não estava apenas uma condenação a Israel, mas a sobrevivência política de Abbas, considerado um moderado. Parte dos votos de apoio, inclusive o do Brasil, tinha a finalidade de ajudar Abbas.
A resolução recebeu o apoio unânime dos governos islâmicos e africanos. Na América Latina, Uruguai e México optaram pela abstenção. Já o Brasil e a Argentina votaram a favor da resolução, tanto diante da avaliação do comportamento de Israel na guerra como para fortalecer Abbas. Mas explicaram seus votos e afastaram a ideia de levar o caso ao Conselho de Segurança. "Achamos que isso é prematuro e contraproducente", afirmou a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Azevedo.
Elogiados por ativistas internacionais, o Itamaraty chegou a sugerir uma mediação para evitar que o tema fosse levado automaticamente para o Conselho de Segurança. Mas as propostas não foram aceitas pelos países árabes. O governo de Israel ficou irritado com o voto brasileiro.
Nos bastidores, a resolução foi alvo de um intenso debate. A Grã-Bretanha e a França - dois membros do Conselho de Segurança - optaram por não votar. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, telefonou horas antes da aprovação para o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, também ligou para o ministro britânico de Relações Exteriores, David Miliband, pedindo que votasse contra a resolução.
Para atender ao pedido dos israelenses, Londres exigiu três concessões: uma investigação imediata e independente sobre o que ocorreu em Gaza, o congelamento de novas colônias e acesso total à Gaza. A esperança dos britânicos era de que toda a Europa seguisse esse caminho. Mas a UE acabou mostrando mais uma vez uma divisão. Itália, Holanda, Hungria, Eslováquia e Ucrânia votaram contra. Bélgica, Bósnia, Noruega e Eslovênia optaram pela abstenção.
Já os Estados Unidos rejeitaram a resolução. Washington insistiu que ela não reconhece o direito israelense de autodefesa contra o Hamas e seus foguetes. "O Hamas é um grupo terrorista. Estamos tentando fazer avançar o processo de paz e isso não ajuda em nada", afirmou Douglas Griffiths, representante americano na ONU
Para os palestinos, o argumento do processo de paz é "cínico". "Sabemos que não há vontade política por parte de Israel. Ele estão usando isso agora para evitar fazer concessões. Queremos paz, mas queremos Justiça", disse ao Estado o embaixador palestino, Ibrahim Khraishi.
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