O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, disse ontem que as enchentes no Paquistão são o desastre mais terrível que já viu e pediu aos doadores internacionais que enviem ajuda com urgência para as 20 milhões de pessoas afetadas quase 10% da população do país. Ban fez as declarações após sobrevoar algumas das áreas mais atingidas.
"Esse foi um dia de partir o coração para mim", disse ele, ao lado do presidente Asif Ali Zardari. "Nunca vou esquecer a destruição e o sofrimento que testemunhei hoje [ontem]. No passado, testemunhei muitos desastres naturais pelo mundo, mas nada como isso."
As enchentes começaram há mais de duas semanas e atingiram quase um quarto do país. Largas regiões continuam debaixo dágua, e outras centenas de casas foram inundadas durante o último fim de semana. As inundações já deixaram ao menos 1,6 mil mortos e 20 milhões de desabrigados.
As chuvas de monção que provocaram o desastre estão previstas para continuar caindo por várias semanas, o que significa que o pior ainda pode acontecer.
Com uma área do tamanho da Itália atingida pelas enchentes, a ajuda do governo e de doadores internacionais está chegando muito devagar, e as Nações Unidas alertaram para uma segunda onda de mortes entre doentes e famintos, caso o socorro não chegue em tempo.
Seis milhões de pessoas ainda precisam de comida, abrigo, água e remédios, disse a ONU. A entidade fez um apelo inicial por US$ 460 milhões para ajuda, mas conseguiu apenas um quarto do valor.
Analistas avaliam que uma percepção de que o Paquistão é corrupto, aliada à visita do presidente paquistanês Asif Ali Zardari à Europa no momento da crise, fizeram pouco para encorajar os doadores internacionais.
"Ondas de enchentes devem se encontrar com ondas de apoio de todo o mundo", disse Ban. "Estou aqui para pedir ao mundo para aumentar a ajuda."
O governo do Paquistão, que já enfrenta a insurgência taleban, agora enfrenta o risco de um levante social e de uma crise econômica de longo prazo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que as enchentes vão provavelmente trazer consequências devastadoras para o país, que já depende de ajuda internacional para manter sua economia funcionando e é peça-chave na guerra dos Estados Unidos contra a Al-Qaeda e o Taleban.
Pontes caíram, estradas foram cortadas ao meio por chuvas torrenciais e vilas foram desconectadas do mundo exterior, em um país que já era um dos mais pobres da Ásia. Assim que as enchentes forem solucionadas, outros bilhões serão necessários para a reconstrução e normalização do país.
O presidente Zardari foi criticado por sua resposta ao desastre, especialmente por manter uma visita oficial à Europa bem no momento em que a crise começava. Zardari visitou as vítimas duas vezes desde que voltou ao Paquistão, mas imagens dele em uma propriedade de sua família, quando esteve na França, devem prejudicar sua imagem por meses.