O secretário-Geral da ONU, António Guterres, elogiou nesta sexta-feira (6) a escolha da ativista e jornalista Narges Mohammadi como ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2023 por sua luta pelos direitos das mulheres no Irã. Ela atualmente cumpre penas que somam 31 anos de prisão no país asiático.
Em declaração, Guterres lembrou que o prêmio é concedido num momento em que “os direitos das mulheres e das meninas enfrentam um forte retrocesso, inclusive através da perseguição de mulheres defensoras dos direitos humanos, no Irã e em outros lugares”.
Especialistas da ONU pediram que o governo do Irã liberte todos os que foram presos por promoverem os direitos humanos das mulheres e meninas no país.
“A atribuição do Prêmio Nobel da Paz de 2023 a uma corajosa jornalista e defensora dos direitos humanos destaca a luta das mulheres contra os sistemas institucionalizados de discriminação, segregação, humilhação e exclusão de mulheres e meninas em todo o mundo”, afirmaram.
Narges Mohammadi tem dois filhos de 16 anos, os gêmeos Kiana e Ali, que não veem a mãe há oito anos e estão refugiados em Paris.
“Estou muito orgulhoso da minha mãe”, disse Ali à CNN. “Ela nem sempre esteve conosco, mas sempre que esteve, cuidou bem de nós. Ela era uma boa mãe e ainda é. Eu aceitei esse tipo de vida agora. Qualquer sofrimento que eu tenha que suportar não importa”, disse o jovem, que mora com a irmã e o pai.
O Nobel da Paz para Mohammadi ocorre na semana em que organizações de direitos humanos denunciaram que uma adolescente de 16 anos está em coma no Irã após ter sido agredida pela Polícia da Moralidade por desrespeitar as normas de uso do hijab, o véu islâmico.
O caso lembra o de Mahsa Amini, uma jovem iraniana de 22 anos que morreu enquanto estava sob custódia de policiais por “uso inadequado” do véu islâmico, em setembro do ano passado. O caso despertou a maior onda de manifestações no Irã em muitos anos.
O regime iraniano respondeu com violência aos protestos, nos quais vários manifestantes foram mortos, e condenou à pena capital outros participantes, dos quais ao menos sete já foram executados.
Apesar da indignação popular, o Irã está buscando aumentar a repressão contra mulheres que não respeitam as normas de uso do hijab: o Parlamento do país aprovou no mês passado um projeto de lei que aumenta as penas nesses casos. A proposta ainda precisa ser aprovada pelo Conselho dos Guardiães, composto por clérigos e juristas.