O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) apela para que os governos americano, mexicano e de outros países da América Central garantam de forma urgente a segurança dos integrantes da caravana de imigrantes que se dirigem à fronteira entre os EUA e o México. A entidade também solicita que essas pessoas possam pedir asilo, como estabelecido no direito internacional.
As mais de 7 mil pessoas que se juntaram à caravana, segundo dados da ONU, chegaram no fim de semana à cidade mexicana de Tapachula, após percorrerem o caminho a pé desde a fronteira da Guatemala. Elas desafiam as ameaças do presidente americano, Donald Trump, de fechar a fronteira sul do país, assim como os alertas do governo mexicano.
Na segunda-feira, Trump disse que Guatemala, Honduras e El Salvador não conseguiram impedir que as pessoas deixassem seu país e tentassem entrar ilegalmente nos EUA. Diante disso, ele anunciou que começará a "cortar ou a reduzir substancialmente a enorme ajuda externa dada rotineiramente a eles".
Dados do governo americano e de uma ONG de monitoramento, no entanto, apontam que a ajuda americana para países da América Central já diminuiu nos últimos dois anos: de US$ 750 milhões em 2016 para US$ 615 milhões em 2018.
Ciente da dimensão "política" da Caravana e seu impacto, a ONU insiste que o foco deve estar na proteção dos migrantes. "O Acnur gostaria de relembrar aos países ao longo da rota que essa caravana provavelmente inclui pessoas sob risco real", declarou Adrian Edwards, porta-voz da entidade ligada à ONU.
"Em qualquer situação como essa, é essencial que pessoas tenham a oportunidade de solicitar asilo e tenham suas necessidades de proteção internacional propriamente avaliadas, antes que qualquer decisão sobre um retorno ou deportação seja feita", declarou Edwards. Cerca de mil integrantes da caravana já pediram asilo no México.
O presidente classificou as caravanas como uma "desgraça à festa democrática" e pediu uma mudança imediata nas leis de imigração.
Para a ONU, porém, a situação mais urgente se refere à segurança dos imigrantes. "A situação humanitária que se desenvolve é de preocupação do Acnur, assim como as áreas onde existem riscos de sequestros e segurança por onde a caravana vai atravessar", alertou Edwards.
"Estabilizar a situação passou a ser urgente", disse o porta-voz do Acnur. "É essencial que existam locais adequados de recepção e outras condições para aqueles pedindo asilo, assim como para outros na rota", defendeu Edwards. "Os países pelo caminho precisam proteger essas pessoas."
O Acnur já tem mobilizado dezenas de agentes no sul do México para lidar com a caravana, oferecer assistência técnica às autoridades e garantir registros de pedido de asilo, além de estabelecer abrigos.
Na Guatemala, o Acnur ainda está monitorando a fronteira em Tecun Uman e as condições humanitárias, enquanto em Honduras a meta é a de garantir uma recepção segura para os integrantes da caravana que tentem retornar.
O perfil da caravana
Ninguém viu "desconhecidos do Oriente Médio" entre os centro-americanos que se dirigem para o norte, atravessando o México. "Criminosos endurecidos" têm sido difíceis de identificar. Estas são as maneiras que o presidente Donald Trump descreveu os membros da caravana de migrantes. Quando um repórter perguntou-lhe como ele tinha tanta certeza, o presidente respondeu: "Não seja um bebê".
Então, quem são as pessoas que deixaram a América Central nas últimas semanas, se juntando a um grupo que espera cruzar para os Estados Unidos?
Suas história, com frequência, se reduzem às razões pelas quais fugiram de suas cidades natais: pessoas fugindo da violência ou da pobreza ou tentando se reunir com esposas e filhos americanos. Mas observando a enorme procissão marchando pelas ruas do sul do México, a coisa mais impressionante sobre o grupo demográfico é quão variada ela é.
Mulheres com carrinhos de bebê caminham ao lado de grupos de adolescentes. À noite, pequenas famílias dormem no chão ao lado de homens de meia-idade fumando cigarros. Um homem caminha com seu cachorrinho de 3 meses de idade chamado Muñeca em uma coleira vermelha. Um adolescente mostra sua tatuagem de uma folha de maconha.
Uma garotinha carrega um coala de pelúcia na cabeça. Uma mulher grávida para para fazer uma pausa na sombra. Um jovem casal se beija depois de uma tempestade. Uma menina de seis meses usa um vestido amarelo que diz: "Bailarina bebê". Um homem usa uma camisa que comprou no Arizona, antes de ser deportado pela sexta vez.
Quando vêem um repórter americano, alguns deles sorriem e gritam qualquer palavra de inglês que possam lembrar. Alguns deles amaldiçoam o presidente da América. Alguns deles citam as cidades onde viveram por anos antes de serem deportados. Alguns deles pedem dinheiro, comida ou água.
Alguns deles podem pagar hotéis baratos. A maioria dorme no chão do lado de fora. Alguns estão tendo dúvidas, ouvindo trechos de notícias traduzidos das ameaças de Trump para despachar os militares. A maioria não consegue pensar em nada que os detenha.
Trump disse: "Estes não são bebês, não são anjinhos entrando em nosso país". Em muitos casos, eles, literalmente, são bebês. Mas, em geral, a melhor maneira de pensar sobre a caravana não é como um grupo concentrado de pessoas boas ou más, ou jovens ou idosos, ou pessoas que buscam asilo ou migrantes econômicos.
Em vez disso, é como se uma cidade inteira tivesse recolhido seus pertences em mochilas e sacolas plásticas e começado a caminhar para o norte. Os organizadores pararam de se referir ao grupo como uma caravana. Eles preferem outra palavra: "Êxodo".