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Algumas meninas afegãs que já conseguiram voltar a estudar, em 18 de setembro de 2022.
Algumas meninas afegãs que já conseguiram voltar a estudar, em 18 de setembro de 2022.| Foto: EFE

Mais uma vez, a Organização das Nações Unidas (ONU) solicitou no domingo (18) que as autoridades do Talibã tomem medidas de urgência para reabrir escolas para meninas do Afeganistão. A ONU ainda definiu o fechamento das instituições de ensino como "vergonhoso" e "inédito no mundo".

As conquistas dos últimos anos foram descartadas e a situação regrediu ao que as afegãs viviam entre 1996 e 2001, no primeiro regime talibã.  Depois de atingida a marca histórica de escolarização de 50% entre a população feminina, segundo a ONG Human Rights Watch, as portas das universidades e das escolas se fecham para meninas e mulheres.

"Um ano de oportunidades perdidas, que elas não recuperarão jamais", tuitou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Desde que retomou o poder em 2021, o Talibã proibiu o equivalente ao ensino médio para meninas. Medidas restritivas também foram impostas a outras afegãs em diferentes graus de ensino.

A maior parte das instituições não permite a presença de meninas de 12 a 19 anos até que seja feita uma reorganização para que elas não frequentem os mesmos prédios que os meninos. Nas poucas universidades em que o acesso feminino é permitido, as estudantes precisam vestir uma burca especial, que é mais larga, e cobrir todo o rosto, além de serem obrigadas a sair do estabelecimento cinco minutos antes dos homens.

Outras perdas de direitos

Com a retomada do poder pelo Talibã, as mulheres também não podem mais viajar de avião se estiverem desacompanhadas de homens da família, nem ocupar cargos públicos ou frequentar parques nos mesmos dias que os homens.

Também estão impedidas de praticar esportes. Em setembro de 2021, Ahmadullah Wasiq, responsável pela comissão cultural dos talibãs, declarou que “não se trata de uma atividade necessária para meninas”, principalmente porque não é compatível com a vestimenta exigida pelo islamismo. O críquete foi citado como exemplo de que, com os movimentos, “o rosto ou o corpo poderiam ficar parcialmente descobertos”.

Em 7 de maio, Haibatullah Akzundzada indicou que as mulheres “devem usar a burca” em todos os ambientes, “pois é tradicional e respeitoso”. Ele reforçou que a cobertura dos pés à cabeça serve para “evitar qualquer provocação quando elas encontrarem um homem”.

Além de poderem ser reprimidas pela justiça talibã, alguns afegãos usam as próprias mãos para encaixarem as mulheres dentro dessas regras. Em agosto do ano passado, o New York Times noticiou o assassinato de uma mulher por circular pela rua com apenas parte do rosto coberto e vestindo calça jeans.

O último decreto do Talibã ainda indica que as mulheres devem sair de casa com a menor frequência possível.

Fome e pobreza pioram a situação

A situação se torna ainda pior devido à fome e à pobreza, que também cresceram no último ano. No ano passado, pouco mais de três meses após a retomada do poder pelo Talibã, organizações humanitárias alertaram sobre níveis críticos no Afeganistão, o que estaria levando famílias a vender meninas jovens para casamentos, na tentativa de sobreviver.

"Nós recebemos relatos confiáveis de famílias que oferecem filhas de até 20 dias de idade para um futuro casamento em troca de um dote", afirmava o comunicado, assinado pela diretora executiva da Unicef, Henrietta Fore.

Segundo a ONU, no final de 2021, 38 milhões de habitantes do Afeganistão estavam à beira da fome, enquanto 36% já enfrentavam grave insegurança alimentar, sem condições de comprar alimentos.

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