A Organização das Nações Unidas exigiu nesta quinta-feira (22) que a Síria conceda aos seus peritos em armas químicas acesso imediato aos subúrbios de Damasco sob controle dos rebeldes, onde gás venenoso aparentemente matou centenas de pessoas a poucos quilômetros do hotel da equipe da ONU.
Não havia sinal, no entanto, de que a equipe da ONU consiga em breve colher amostras das cenas de horror que provocaram comparações com o uso de gás letal contra milhares de curdos iraquianos em Halabja em 1988.
Adversários do presidente sírio, Bashar al-Assad, disseram que o total de mortos estava entre 500 e bem mais de 1.000, e que mais corpos estavam sendo encontrados após o aparecimento de uma misteriosa fumaça letal na madrugada de quarta-feira, que o governo sírio insiste em dizer que não é responsável.
Imagens, inclusive de alguns fotógrafos que prestam serviço à Reuters, mostraram dezenas de corpos dispostos no chão, sem sinais visíveis de ferimentos. Alguns tinham espuma no nariz e na boca.
Continua improvável que as conversas, principalmente da França e da Grã-Bretanha, sobre uma resposta estrangeira rigorosa resultem em uma ação rápida e conjunta, devido à oposição russa e à cautela dos Estados Unidos.
Moscou disse que os rebeldes podem ter lançado gás para desmoralizar Assad e pediu-lhe para concordar com uma inspeção da ONU. Na quarta-feira, as objeções russas em relação à pressão ocidental sobre a Síria levaram o Conselho de Segurança a apenas pedir "clareza" no incidente --uma posição que frustrou os rebeldes sírios, que a descreveram como "vergonhosa".
Nesta quinta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que a Síria deve deixar que a equipe da entidade, já em Damasco, investigue o ataque "sem atraso". Ele disse esperar uma resposta rápida e positiva.
O presidente dos EUA, Barack Obama, determinou às agências de inteligência do país para ajudar urgentemente a estabelecer o que causou as mortes, disse uma porta-voz do Departamento de Estado, reconhecendo que pode ser difícil, já que os Estados Unidos não têm relações diplomáticas com a Síria.
"Neste momento, agora, não somos capazes de conclusivamente determinar o uso de armas químicas", afirmou a repórteres a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki. "Estamos fazendo todo o possível em nosso poder para definir os fatos com precisão."
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, disse que as potências mundiais devem responder com força se as alegações de que o governo da Síria foi responsável pelo pior ataque químico contra civis em meio século se mostrarem verdadeiras. Mas até mesmo Fabius destacou que não havia chance de enviar soldados por terra.
A Grã-Bretanha disse que nenhuma opção "que pudesse salvar vidas inocentes na Síria" deveria ser descartada. Mas as forças europeias pouco podem fazer sem a ajuda dos EUA, e Washington mostra pouco apetite para a guerra.
Autoridades sírias descreveram as alegações contra suas forças de "ilógicas e fabricadas", apontando para o momento do ataque e suas afirmações anteriores de que, se possuíssem armas químicas, nunca as usariam contra sírios.
Depois de meses de negociações com o governo de Assad para permitir a entrada de inspetores na Síria, uma equipe da ONU chegou a Damasco quatro dias atrás. A equipe tem a missão de checar a presença, mas não as fontes, de armas químicas que supostamente foram lançadas em três incidentes pequenos e específicos vários meses atrás.
O governo da Síria não ofereceu uma resposta pública imediata aos pedidos na quinta-feira para que a equipe da ONU tenha acesso à área.
"Estamos sendo exterminados"
Muitos rebeldes e ativistas da oposição dizem que perderam interesse nas promessas de investigações da ONU e na ajuda de fora. "Estamos a 7 km de distância, a apenas 5 minutos de carro de onde eles estão", disse o ativista Bara Abdelrahman.
"Estamos sendo exterminados com gás venenoso enquanto eles bebem o café deles e sentam-se em seus hotéis".
Qassem Saadeddine, comandante e porta-voz do Conselho Militar Supremo dos rebeldes, disse que o grupo ainda deliberava sobre como ou se deveria responder ao ataque.
"As pessoas estão ficando cada vez mais desesperadas enquanto assistem a outra rodada de declarações políticas e reuniões da ONU sem nenhuma esperança de ação", disse ele à Reuters.
"Estamos analisando como os rebeldes deveriam responder".
A revolta da Síria contra quatro décadas de governo da família Assad se transformou em uma brutal guerra civil que já matou mais de 100 mil pessoas em dois anos e meio e dividiu o Oriente Médio em amplas linhas sectárias. Entre as potências mundiais, o conflito reviveu as tensões da Guerra Fria entre Ocidente e Oriente.
As potências ocidentais apoiam a oposição, mas estão relutantes em se comprometer totalmente com uma revolta cada vez mais dominada por islâmicos ligados à Al Qaeda. Mas disseram que o uso em larga escala das banidas armas químicas poderia ser um fator que mudaria o jogo.
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