Soldado brasileiro da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah): relevância econômica ainda não acompanha a militar, dizem analistas.| Foto: Orlando Barría/EFE/Arquivos

Como funciona

O emprego das Forças Armadas brasileiras pela ONU requer:

- Autorização do presidente da República e anuência do Congresso Nacional.

- Disponibilidade de efetivos e custos envolvidos. A ONU repassa apenas uma parte dos recursos.

- Possibilidade de auxiliar em conflitos armados em países desestabilizados.

- Organização das tropas pelo Ministério da Defesa. Para as participações individuais (observadores militares, oficiais de ligação e oficiais de Estado Maior), o Ministério da Defesa recebe indicações de profissionais e as encaminha para a ONU.

Fonte: Ministério da Defesa

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Onde o Brasil já contribuiu
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Se o Brasil quiser ganhar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, terá de contribuir em mais missões de paz das Nações Unidas. Em outras palavras, foi esse o recado do secretário-geral da organização ao país, na semana passada, quando disse que Brasília precisa ter "maior senso de responsabilidade".

Mas, com 1.300 homens atuando indefinidamente no Haiti e equipamentos defasados, o Brasil teria condições de assumir novas missões? Analistas de dentro e de fora das Forças Armadas acreditam que sim.

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O que não é consenso é se existe direcionamento político nesse sentido dentro do governo – o que poderá ser esclarecido na próxima quinta-feira, quando o ministério da Defesa apresenta o conteúdo da Estratégia de Defesa Nacional.

O documento propõe uma "reorganização radical das Forças Armadas e reorienta a indústria nacional de Defesa", de acordo com o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, autor do projeto em conjunto com o ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Se depender de especialistas em Segurança e Relações Internacionais, a "reorientação radical incluirá a maior participação do país em missões internacionais. "O Brasil almeja ter mais responsabilidade no sistema internacional das Nações Unidas, e é evidente que essa é uma medalha com duas faces", diz o doutor em Relações Internacionais Ricardo Seitenfus, autor do livro Haiti – A Soberania dos Ditadores.

Participar mais ativamente de missões de paz traria outro tipo de ganho para as Forças Armadas, na opinião do coronel do Exército André Tiago Salgado Chrispim. "As tropas ganham em adestramento, atualização de equipamentos e intercâmbio internacional", diz. "A importância militar do país deve acompanhar a econômica", defende.

"Não temos guerra e temos um Exército gigantesco... vamos dar trabalho para eles em missões de paz", diz o coordenador do grupo de análise de prevenção de conflitos internacionais da Universidade Cândido Mendes, Clóvis Brigagão.

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Ranking

De acordo com o Ministério da Defesa, desde a década de 50 o Brasil cedeu 20 mil militares e policiais militares à ONU para participar de cerca de 20 missões. Pode parecer um envolvimento intenso, mas não faz jus à posição do país como oitava economia do mundo, na opinião de analistas. Pelo ranking da ONU, entre as tropas internacionais envolvidas em missões de paz em outubro, o país foi o 19º em número de homens, entre 119 nações contribuintes.

Investimento

Durante a apresentação da Estratégia de Defesa Nacional a senadores, há alguns dias, o ministro Jobim teria dito que "as Forças Armadas precisam ser reequipadas, pois a falta de componentes tecnológicos muitas vezes deixa nossos militares despreparados", conforme declarou o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Mas o governo ainda não informou quanto investirá na atualização de equipamentos prevista pela nova orientação da Segurança nacional.

Para Brigagão, a culpa da falta de equipamentos é do desequilíbrio do orçamento das Forças Armadas, que destina 76% da verba para salários. "Tudo que se gasta em pessoal impede investimentos", diz.

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A defasagem de equipamentos não impediria a maior participação do Brasil em missões de paz, já que a ONU custeia parte do gasto de mobilização de tropas e equipamentos. Além disso, como as forças de paz são requisitadas para atuar em países pobres, onde o tipo de armamento é composto por explosivos e lançadores improvisados. Ainda que sejam destrutivos, em geral não são sofisticados.

"Normalmente, as missões exigem mais em treinamento do que em equipamento. Não há relação entre aparelhamento e (capacidade da) força de paz", diz o professor do Centro Hemisférico de Estudos de Defesa, de Washington, Luís Bitencourt.