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A resolução sobre a situação humanitária na Ucrânia proposta pela Rússia ao Conselho de Segurança da ONU nesta terça-feira (15) não faz menção à guerra ou à responsabilidade de Moscou pelo conflito. O documento deve ser rejeitado pelas potências ocidentais, que alertaram que aprová-la seria dar apoio implícito à invasão.
Após se opor a um texto impulsionado por França e México, a delegação russa anunciou hoje que iria apresentar sua própria proposta ao Conselho para pedir respeito "aos princípios humanitários" na Ucrânia, exigir um cessar-fogo negociado e condenar os ataques contra civis, entre outras coisas.
O rascunho distribuído aos demais países, de fato, toca em todos esses pontos, embora não mencione em nenhum momento que a crise atual seja resultado da guerra iniciada pelo governo russo, nem se dirige em nenhum momento a Moscou para que interrompa sua ofensiva.
"Este rascunho nada mais é do que uma distração e nossos colegas ucranianos deixaram claro que veem este texto como um insulto", disse a embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward, em um vídeo no qual anunciou que seu país se oporá à resolução russa.
Como o Reino Unido tem poder de veto no Conselho de Segurança, já é certo que a iniciativa não irá avançar. A expectativa é que grande parte dos 15 países-membros se oponham, fazendo com que a Rússia não consiga o mínimo de nove votos necessários para ter que evitar o recurso ao veto.
Durante as negociações da resolução proposta pela França e pelo México, tanto o Reino Unido quanto os Estados Unidos já haviam deixado claro que não iriam aceitar um documento que não apontasse a responsabilidade da Rússia na atual guerra na Ucrânia, algo que Woodward reiterou hoje.
"Vemos este texto russo como um movimento cínico e como nada mais do que um jogo diante do sofrimento extremo", protestou a diplomata britânica, que considerou que a aprovação da resolução "seria um endosso implícito à invasão russa".
O documento, que a Rússia quer votar na próxima quarta-feira (16), "exige" que os civis na Ucrânia sejam "totalmente protegidos" e que todas as partes respeitem o pessoal médico e humanitário para que possam realizar seu trabalho.
De acordo com as Nações Unidas, desde o início da guerra, as forças russas lançaram vários ataques contra alvos civis, incluindo várias instalações médicas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, deixou claro que a maior parte dos danos contra civis é resultado de ações russas; a declaração foi criticada pelo embaixador de Moscou, Vasily Nebenzya, que acusou Guterres de faltar com seu dever de neutralidade.
Diante da oposição da Rússia ao texto proposto pela França e pelo México, esses países anunciaram sua intenção de levá-lo à Assembleia Geral da ONU, onde Moscou não tem poder de veto.