Onze empresas, entre as quais TAM e Gol, retiraram o edital do leilão da Varig, marcado para o dia 5. A BR Distribuidora, por sua vez, deu mais fôlego à Varig e renovou até terça-feira - dia seguinte ao do leilão da companhia aérea - o acordo de fornecimento de combustível. As bases são as mesmas acertadas no primeiro acordo, no dia 23 de maio, com o repasse, pela Varig, de recebíveis de cartões de crédito e valores a receber de agências de viagem à estatal.
No primeiro dia de acesso ao edital do leilão da Varig, marcado para a próxima segunda-feira, no Rio, 11 interessados estiveram na sede da companhia, atrás do aeroporto Santos Dumont, até o início da noite. Entre os interessados estão TAM, Gol, BRA, Webjet, Ocean Air e AeroLB (empresa da TAP com investidores brasileiros e de Macau).
Segundo fontes ligadas à Varig, além da retirada da versão completa do edital, as empresas interessadas também receberam informações sobre como proceder para depositar o valor de R$ 60 mil em uma conta bancária que permitirá o acesso ao data-room com dados da empresa, que será aberto nesta quarta-feira, às 8h30m. Os interessados terão acesso até as 18h de domingo. Salas individuais foram montadas para garantir a privacidade dos potenciais investidores.
Na avaliação de Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez Marsal (responsável pela reestruturação da Varig), o número de interessados no data-room poderá chegar a 15. Segundo ele, além das 11 empresas que retiraram o edital, mais quatro, cujos nomes ele preferiu manter em sigilo, fizeram contato com a Varig. Gomes está otimista também quanto à audiência que acontecerá nesta quarta-feira na Corte de Falências de Nova York. Para ele, o fato de a Varig já ter marcado o leilão e a procura por interessados dão segurança à companhia para argumentar com o juiz Robert Drain.
Nesta quarta-feira termina a validade da liminar que impede empresas de leasing retomar aviões da Varig por falta de pagamento.
- Não tenho dúvidas de que a audiência terá um desfecho favorável. Está tudo caminhando bem, com o leilão e com a BR - afirmou Gomes.
O executivo explicou, ainda, que se não houver interessados numa primeira rodada do leilão o preço mínimo - US$ 700 milhões pela Varig doméstica ou US$ 860 milhões pela operação inteira - pode baixar. Os lances, no entanto, não poderão ser tão inferiores, ou serão considerados "preço vil" - o patamar será determinado pela Justiça.
O edital desagradou aos credores públicos - Infraero, BR Distribuidora e Banco do Brasil - que trabalham contra o tempo para mudar o texto. A principal queixa diz respeito a essa possibilidade de a Varig ser vendida por menos do que o preço mínimo original. A insatisfação foi manifestada ontem em audiência reservada na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.
Segundo um interlocutor do governo, é preciso definir melhor o conceito de "preço vil":
- Até por uma questão ética, temos que melhorar o edital. Do jeito que está significa uma renúncia a nossos créditos - disse essa fonte, acrescentando que caso não haja interessados é melhor que a Justiça decrete a falência da companhia aérea.
Segundo outras fontes do governo, há apreensão em Brasília sobre o resultado da audiência em Nova York. O Ministério da Defesa e a Casa Civil serão informados imediatamente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) da decisão do juiz Robert Drain.
O governo do Rio Grande do Sul fechou na noite desta terça um acordo com a Varig, para pagamento em 90 meses, depois de dois anos de carência e com um desconto que poderá variar entre 25% e 30%, dos créditos de ICMS relativos ao recolhimento feito entre 1989 e 1994. Em 1996, esse recolhimento foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a Varig, os créditos somam R$ 111 milhões, mas o governo gaúcho ainda não fechou o valor e compromete-se a apresentar seus cálculos dentro de dez dias.