Dirigentes da oposição da Nigéria anunciaram hoje uma campanha de sensibilização nacional para pressionar em favor de uma repetição da eleição presidencial do último sábado, marcada por denúncias de graves irregularidades.
O candidato presidencial do governante Partido Democrático Popular (PDP), Umar Moussa Yar'Adua, foi proclamado vencedor das eleições com 69,96% dos votos válidos, segundo os resultados divulgados pela Comissão Eleitoral.
De acordo com o último relatório da comissão, Yar'Adua obteve 24.784.227 de votos. Em segundo ficou o candidato do Partido de Todos os Povos da Nigéria (ANPP), o ex-governante militar Muhammadu Buhari, que recebeu 6.606.419 votos.
Embora 61 milhões de nigerianos estivessem convocados para as eleições, os votos válidos registrados totalizaram apenas 35,4 milhões, quase a metade, segundo os dados da Comissão Eleitoral.
Representantes da oposição se reuniram na terça-feira e a previsão é de que as conversas continuem nas próximas horas. Segundo fontes políticas, o mais provável é que apresentem recursos legais e convoquem mobilizações populares para exigir um novo pleito.
"Os resultados das eleições, maciçamente defeituosas, não podem ficar assim", disse hoje à agência Efe um dirigente da coalizão de partidos opositores que preferiu não ser identificado.
"Estamos consultando todas as partes como ação de uma campanha para sensibilizar os nigerianos sobre a necessidade de resistir a esta imposição de candidatos, que não tem precedentes", acrescentou a fonte.
Por enquanto, o dirigente do opositor Congresso Africano Democrático (ADC), Pat Utomi, fez um apelo urgente ao Senado para que rejeite os resultados da apuração e desmantele a Comissão Eleitoral Nacional Independente.
A comissão, cujos membros são designados pelo governo, foi o principal alvo das críticas dos partidos da oposição e dos observadores eleitorais pela desorganização e falta de transparência do processo.
Enquanto a oposição procura métodos para rejeitar os resultados, grupos de profissionais, líderes de opinião e dirigentes religiosos se uniram às vozes que criticam o desenvolvimento do processo eleitoral.
As denúncias incluem o seqüestro de urnas, a introdução irregular de votos, o atraso na abertura dos colégios e a não instalação dos mesmos, além de contratempos no envio dos materiais em regiões consideradas redutos da oposição.
O Colégio de Advogados, sindicatos, líderes da Igreja Católica e ativistas dos direitos humanos criticaram as irregularidades, que afetaram não só as eleições presidenciais e legislativas de sábado mas também as votações regionais de 14 de abril.
O Colégio de Advogados da Nigéria responsabilizou a Comissão Eleitoral pelas irregularidades, pois demonstrou uma "flagrante incompetência" e deveria ter seu papel revisado antes que seja encarregada de organizar outras eleições.
De acordo com o Congresso de Sindicatos da Nigéria (NLC), o processo que levou à vitória de Yar'Adua foi "fundamentalmente defeituoso", acrescentando que a rejeição dos resultados será o melhor serviço que se pode fazer pelo país.
O presidente da Conferência Episcopal da Nigéria, o arcebispo Alaba Job, foi além e fez um apelo à população para resistir ao surgimento de tentações ditatoriais na Nigéria.
"As eleições de 2007 confirmaram que os nigerianos enfrentam o desafio de saber viver em democracia", disse Job aos jornalistas.
"Para que o povo possa defender seus direitos, devem saber quais são esses direitos e devem ser educados para saber que determinados sistemas de administração não favorecerão seus interesses", acrescentou.
"É por isso que os nigerianos deveriam resistir a qualquer tipo de ditadura, dominação ou abuso", disse Job.
Outros, como o advogado da cidade de Lagos Gani Fawehinmi, sustentam que os antecedentes do presidente Olusegun Obasanjo, no poder desde 1999, também não davam muitas garantias.
Os nigerianos "não podem demonstrar júbilo porque não vêem mudanças: vêem Yar'Adua como uma marionete de Olusegun Obasanjo", afirmou Fawehinimi.