Base de apoio indígena do presidente Evo Morales contida por policiais, em foto de setembro: tensão| Foto: David Mercado/Reuters

La Paz - Os governadores de oposição na Bolívia anunciaram ontem a suspensão "temporária" da rodada de negociações com o presidente Evo Morales porque consideram que o governo promove uma "caça" aos líderes dos protestos que sacudiram o país nas últimas semanas.

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O anúncio foi feito pelo governador de Tarija, Mario Cossío, porta-voz dos cinco departamentos rebeldes. "Está nas mãos do presidente", disse ele.

A decisão dos opositores reagiu à prisão, ontem, de José Vaca, um ativo participante dos protestos na região gasífera do Chaco (sul), sob acusação de envolvimento no "atentado’’ contra o duto que transporta o gás ao Brasil, em 10 de setembro. Uma das válvulas foi danificada provocando queda de 10% no envio do combustível.

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Cossío diz que a prisão é mais um desrespeito ao pré-acordo assinado para iniciar o diálogo. O texto fala em "não promover ações judiciais que tenham conotação política’’.

Para o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, não há "argumento razoável’’ para a suspensão. Afirmou – como Morales, que jamais se comprometeu com o documento do pré-acordo –, que é "inegociável’’ o julgamento dos responsáveis pelos danos e "atos terroristas’’ em três semanas de protestos, que incluíram bloqueios rodoviários, invasão de aeroportos, prédios públicos e infra-estruturas energéticas.

A suspensão acorre num momento delicado das negociações iniciadas no último dia 18, com a participação de observadores internacionais, após a fase mais aguda da crise até agora. Em Pando (norte), ao menos 15 correligionários de Morales foram mortos. O presidente teve reuniões nos últimos dias com governadores para costurar um acordo a ser anunciado no domingo. A divergência maior – o quanto mudar no texto constitucional – segue.

Mesmo antes da prisão de José Vaca – cujos relatos ainda são nebulosos –, os opositores já reclamavam da beligerância do governo, mas seguiam negociando. Segundo uma fonte do entorno do governo de Santa Cruz, bastião opositor, a avaliação é a de que vale a pena tentar um acordo mesmo que pontual, com respaldo internacional, porque esperam uma investida do governo, com ou sem acordo, para aprovar no Congresso os referendos que faltam da Constituição, com pressão dos movimentos sociais e nova onda de protestos das alas radicais opositoras.

A prisão de Vaca espalhou temor entre os opositores. Poderia ser o começo de uma ofensiva que abarcaria outros líderes cívicos. Eduardo Pérez, do conselho de segurança cidadã de Villamontes, disse à reportagem que Vaca foi "seqüestrado’’ por homens encapuzados na tarde de terça-feira e levado a La Paz. Outras três pessoas foram detidas, mas logo liberadas. O governo disse ontem que a prisão cumpriu os requisitos legais.

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