Os protestos de rua no Egito levaram a oposição ao ditador Hosni Mubarak, de 82 anos, historicamente frágil e dividida, a se articular pela primeira vez. Grupos seculares e islâmicos planejam para hoje protestos contra seu governo, com a expectativa de superar os realizados na última terça. Isso apesar da proibição de manifestações públicas.
A ação dos oposicionistas foi reforçada pelo retorno ao país de Mohamed ElBaradei, ex-chefe da agência nuclear das Nações Unidas (AIEA) e premiado com o Nobel da Paz em 2005.
ElBaradei, que prometeu participar da manifestação, afirmou que Mubarak "já serviu o Egito por 30 anos" e, agora, tem de se afastar do poder. Ele também se disse pronto para liderar a transição para um novo regime, "se o povo quiser assim".
Banida pelo governo egípcio, a Irmandade Muçulmana, maior grupo oposicionista do país, também deu seu apoio aos atos de hoje. Em seu site na internet, o movimento pediu que os protestos sejam pacíficos e reivindicou a suspensão de leis de emergência vigentes desde a ascensão do ditador ao poder.
Dia sagrado
Às sextas, milhões de pessoas em todo o Egito vão às mesquitas para fazer orações, e a intenção da oposição é aproveitar esse contingente para engrossar os protestos.
O Partido Nacional Democrático, sigla de Mubarak, tentou minimizar as demonstrações de desagrado com o governo classificando os manifestantes como "minoria".
Na primeira entrevista coletiva de um governista desde terça, o secretário-geral do partido, Safwat El-Sherif, disse estar "pronto para o diálogo". Segundo ele, no entanto, "a democracia tem suas regras e seu processo, e a minoria não pode forçar sua vontade sobre a maioria".
Mubarak, que não foi visto em público nesta semana, ainda não disse se pretende concorrer em 2011 a mais um mandato de seis anos as eleições no país são notoriamente vistas como fraudadas. Ele nunca indicou um substituto, e há rumores de que esteja preparando seu filho Gamal para a sucessão.
De acordo com despachos diplomáticos dos EUA que foram vazados para o site WikiLeaks, a ideia de transmissão hereditária do poder não é vista com bons olhos pela elite militar egípcia.
Ontem novamente foram registrados episódios de violência fora da capital, Cairo. Em Suez, um quartel dos bombeiros foi depredado e incendiado; houve também ataques a postos policiais e prédios do governo.
No país todo, cerca de mil pessoas foram detidas desde terça em razão dos protestos.
Moderação
Nos EUA, apesar da pressão crescente contra o apoio polêmico a ditadores que enfrentam protestos na região, algumas declarações oficiais indicaram que a posição não mudou.
A Casa Branca disse claramente que Hosni Mubarak é um aliado valioso, um dia depois que o porta-voz da Presidência, Robert Gibbs, se recusou a citar a aliança com o ditador egípcio.
Em entrevista à imprensa estrangeira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Hammer, evitou relacionar os conflitos na Tunísia, que resultaram na queda do governo, e a agitação no Egito.
"Temos que ver as coisas separadamente", disse. "Na Tunísia, apoiamos o movimento e vamos estar ao lado do novo governo, que já está dando sinais positivos para mais liberdade."
Ele lembrou o famoso discurso de Barack Obama no Cairo, no qual defendeu a liberdade de expressão e de os povos terem participação na forma como são governados.