O Conselho Nacional de Transição, órgão político dos rebeldes da Líbia, apresentou ontem um plano de transição ordenada para a democracia em cinco fases. Os rebeldes, que disputam o controle do país com as forças do ditador Muamar Kadafi, disseram que o processo acontecerá de forma "inclusiva, transparente e progressiva".
Os rebeldes apresentaram o projeto ao Grupo de contato sobre a Líbia, que reúne potências ocidentais e aliados árabes em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, para discutir formas de uma transição à democracia na Líbia caso o ditador seja derrubado do poder.
O ditador líbio, contudo, não dá nenhum sinal de que está disposto a renunciar, mesmo após quatro meses de guerra com os rebeldes oposicionistas (atualmente em um impasse) e dois meses da intervenção militar internacional contra seu regime.
O CNT, segundo o documento, descreve cinco fases da mudança: o conflito atual, um período de estabilização, um para a construção de instituições políticas, uma etapa de transferência de poderes e uma última de planejamento e gestão.
O órgão reconheceu, contudo, a heterogeneidade da sociedade líbia, formada por diversas tribos, e garantiu que sua prioridade é a "coesão nacional" incluindo as áreas hoje sob controle de Kadafi.
Proposta espanhola
Mais cedo, a Espanha propôs seu plano para a criação de novas instituições democráticas e a formação de um novo Exército na Líbia, em colaboração com o CNT.
A ministra espanhola de Relações Exteriores, Trinidad Jiménez, afirmou que a proposta de um "pacto entre a comunidade internacional e a oposição líbia poderia ser aplicada assim que Kadafi deixar o poder o que a comunidade internacional espera em prazo curto.
A ministra espanhola explicou que o plano conta com três partes: política, econômica e de segurança. No primeiro âmbito, o objetivo seria redigir uma Constituição e colocar em pé novas instituições para construir um Estado "democrático, unido e independente".
Segundo Jiménez, a União Europeia (UE) poderia liberar esta tarefa, assim como a etapa econômica do plano, que consistiria em cooperar para que a riqueza gerada pelos recursos naturais da Líbia principalmente gás e petróleo gere benefícios ao povo líbio.
A terceira meta, de segurança, implicaria em estabelecer um programa de formação da polícia e do Exército líbios para que trabalhem segundo os "princípios do estado de direito".
Rebeldes conseguem ajuda de US$ 1 bilhão
Os insurgentes líbios vão receber US$ 1 bilhão em ajuda financeira, mas a quantia é considerada insuficiente por eles. Um dos desertores de maior peso entre os que já se juntaram ao grupo, o ex-chanceler Abdurrahman Mohamed Shalgham, disse que os líbios que tentam derrubar Muamar Kadafi precisam de US$ 3 bilhões nos próximos quatro meses.
Shalgham afirmou que os ativos líbios congelados na Itália podem contribuir. O país europeu foi o primeiro a declarar na reunião que destinaria aos rebeldes líbios até 400 milhões de euros (cerca de US$ 586 milhões) em dinheiro e combustível. A França prometeu oferecer 290 milhões de euros (US$ 423 milhões). Já o Kuwait ofereceu US$ 180 milhões. Mais US$ 100 milhões virão do governo da Turquia, disse o chanceler do país, Ahmet Davutoglu.
Segundo o ministro de Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, o dinheiro virá de recursos líbios congelados para pressionar o governo do ditador.
"A Itália está comprometida em oferecer uma quantia em dinheiro, cerca de 300 a 400 milhões de euros em dinheiro e combustível, cerca de 150 milhões de euros em combustível, usando um procedimento de empréstimo garantido por recursos congelados", disse Frattini. "Nós congelamos apenas na Itália cerca de 8 bilhões de ativos da Líbia que não pertencem ao regime, são para o povo."
Os recursos também vão reforçar a luta dos insurgentes para derrubar Kadafi.
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