Buenos Aires - Com a morte de seu marido e principal estrategista político, Néstor Kirchner, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, precisará enfrentar sozinha uma longa lista de inimigos políticos.
O estilo confrontador de Kirchner, que chegou ao poder em 2003, resultou numa lista de desafetos que incluía o Grupo Clarín, maior conglomerado midiático do país, o setor agropecuário e associações empresariais.
Na opinião do analista político Sergio Berensztein, do instituto Poliarquia, a ausência de Kirchner não resultará em distensão dos confrontos. É possível que Cristina adote estilo ainda mais "brigão".
"Ela compartilhava as disputas e se sentia cômoda ao confrontar [os inimigos da Casa Rosada]. Há grandes chances de ela inclusive acusar o Clarín de causar a morte do marido", afirma.
Berensztein também diz que a oposição não ofertará uma trégua no Congresso, onde o governo tem minoria desde o ano passado.
Projetos polêmicos, que reduzem superpoderes do Executivo e contrariam o governo, devem ser votados ainda neste ano.
"Os líderes opositores foram tratados muito mal no velório. A presidente não cumprimentou nenhum deles, e o vice-presidente nem pôde ir. Devemos esperar atitude sem trégua deles.
Para o analista Jorge Giacobbe, as reações do mercado demonstram que os setores econômicos não acreditam que Cristina terá condições de vencer os confrontos que o marido iniciou.
Horas depois da morte de Kirchner, a cotação dos títulos da dívida pública argentina disparou na bolsa de Nova York e as ações do Grupo Clarín subiram 49%.
"O sinal é: acabou, precisamos só esperar um ano", afirma o analista, referindo-se às eleições presidenciais de outubro de 2011.
Apesar de a presidente ainda não ter se manifestado, o chanceler argentino, Héctor Timerman, declarou que ela concorrerá à reeleição. "Cristina será a candidata dos argentinos e vai ganhar, não tenho dúvidas", afirmou à CNN.
Outros integrantes do governo evitaram o tema e disseram que a decisão caberá unicamente a Cristina.