O partido de oposição Liga Nacional pela Democracia (LND), liderado pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, advertiu nesta terça-feira (9) que não dialogará com a Junta Militar de Mianmar(antiga Birmânia) se houver a imposição de condições.
"O desejo de conseguir êxito é muito importante, e por isso não deve ser fixada nenhuma condição prévia", afirmou a LND em comunicado.
Segundo o grupo opositor, único que resiste à forte pressão exercida pelo regime militar, "o sucesso do diálogo está na sinceridade e no espírito de dar e pedir".
O chefe da Junta Militar, general Than Shwe, tinha expressado ao enviado especial da ONU, Ibrahim Gambari, que visitou Mianmar em outubro, sua disposição de se encontrar com Suu Kyi se esta abandonasse a atitude de "confronto", disseram fontes diplomáticas.
O regime militar anunciou nesta terça-feira que esperava manter "relações fluentes" com Suu Kyi, após designar um interlocutor oficial com ela e com as Nações Unidas.
Os generais birmaneses, que governam o país desde 1962, enfrentaram no final de setembro as maiores manifestações governamentais em 19 anos, e reprimiram com violência.
Doações
A Junta Militar doou cerca de US$ 8 mil (pouco menos de R$ 16 mil), além de alimentos e medicamentos, a aproximadamente 50 mosteiros do norte de Yangun, em uma tentativa de restaurar as relações com os monges budistas, protagonistas das grandes manifestações pacíficas das últimas semanas.
Segundo a edição desta segunda-feira (8) do diário "Nova Luz de Myanmar", órgão de propaganda do regime militar, as doações foram distribuídas no domingo por altos comandantes militares e foram arrecadadas entre os soldados e suas famílias.
A fonte indicou que o donativo foi aceito pelos monges, que no mês passado declararam o boicote a essas tradicionais doações pelos maus-tratos sofridos por alguns de seus membros nas mãos dos soldados.
Em seguida ocorreram as manifestações contra o aumento do combustível e dos produtos básicos, que finalmente se transformaram em um clamor popular pela democratização do país.
O "gesto" dos militares acontece após a detenção de milhares de pessoas, entre monges e civis, e a resposta violenta contra os protestos que matou 16 pessoas, embora os grupos dissidentes no exílio afirmem que as vítimas fatais passam das 200.
As autoridades militares sustentam que cerca de 2.700 pessoas, entre elas 573 monges de mosteiros de Yangun, foram detidas desde 28 de setembro. Segundo a versão oficial, dez pessoas morreram baleadas ou depois de serem espancadas, mas fontes dos grupos antigovernamentais estimam que o número de mortos com a repressão supere os 200.
O governo militar afirma que já pôs em liberdade quase 1.600 pessoas, e que dez morreram durante a ação dos soldados e da Polícia contra os manifestantes.
Mesma tática
Mianmar conta hoje com aproximadamente 400 mil monges e a outra com quase o mesmo número de soldados, a Junta Militar presidida pelo general Than Shwe.
Com suas manifestações, os monges encorajaram centenas de milhares de birmaneses a se manifestarem pacificamente para pedir liberdade e democracia.
Em uma aparente tentativa de readquirir a legitimidade que o apoio do clero budista lhe dava, os militares birmaneses desenvolvem agora a mesma estratégia utilizada após o massacre de 3 mil ativistas democratas entre agosto e setembro de 1988.
As doações foram entregues pelo chefe militar de Yangun, general Myint Swe, durante atos oficiais que contaram com a participação de abades dos mosteiros e membros da máxima autoridade budista (Sangha), que as aceitaram em qualidade de oferenda feita por comandantes do Exército, soldados e suas famílias, segundo o órgão de propaganda do regime.
"O Sangha tem muito poder, por isso é importante para o regime contar com seu apoio", disse o político birmanês Naing Oo, exilado na Tailândia.
O jornal usado pela Junta Militar para divulgar suas mensagens à comunidade internacional afirmou que os detidos por sua relação com as manifestações são considerados delinqüentes, e, se forem declarados culpados, serão presos.
O regime militar, por meio de outro comentário publicado pelo jornal oficial, também advertiu que não cederá às reivindicações feitas pelos manifestantes, incluindo a libertação da Nobel da Paz e líder da Liga Nacional pela Democracia (LND), Aung San Suu Kyi, em prisão domiciliar desde junho de 2003.
"Essas três reivindicações - reduzir os preços dos produtos básicos, a libertação de Aung San Suu Kyi e dos presos políticos, e a reconciliação nacional - não serão atendidas mediante protestos", ressaltou o governo militar.
Mais presos
Quatro membros do opositor Partido Democrático de Cingapura (PDC) foram detidos nesta segunda-feira (8) quando criticavam as relações do governo com a Junta Militar de Mianmar, em uma manifestação na qual mostraram cartazes com os lemas "Acordos Não", "Armas Não" e "Mianmar Livre".
Os detidos em frente ao palácio de Istana são o presidente da formação, Gandhi Ambalam; o secretário-geral, Chee Soon Juan; o ajudante do secretário-geral, John Tan, e Chee Siok Chin, segundo o partido.
Antes, o grupo tinha passado pela Embaixada de Mianmar para entregar uma carta ao embaixador, U Win Myint, com assinaturas de 1.107 pessoas, que condenava a brutal repressão da Junta Militar sobre as manifestações pacíficas antigovernamentais.
O pessoal da delegação diplomática rejeitou a nota e disse que o embaixador não podia sair.
O primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, como presidente rotativo da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), condenou a violência usada pelo regime militar birmanês contra as mobilizações que começaram em 19 de agosto, como um protesto contra os aumentos dos preços dos combustíveis.
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