O partido opositor peruano Força Popular, liderado por Keiko Fujimori, divulgou nesta terça-feira (20) imagens de uma suposta negociação de compra de votos envolvendo Kenji Fujimori, o irmão e desafeto da ex-presidenciável.
As imagens de câmera escondida aparecem com uma data fictícia, mas a sigla diz terem sido feitas em dezembro, dias antes da votação no Congresso da primeira tentativa de destituição do presidente Pedro Pablo Kuczynski.
As gravações são divulgada dois dias antes de o mandatário, que derrotou Keiko em 2016 por 50 mil votos, voltar a ter sua deposição nas mãos dos parlamentares devido a sua ligação com a construtora brasileira Odebrecht.
Sem maioria parlamentar, PPK, como é conhecido, conseguiu permanecer no cargo após selar um acordo com Kenji e aliados, que se abstiveram e impediram Keiko e outros rivais de terem os 87 votos necessários para derrubá-lo.
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Em troca, Kenji pediu o indulto do ex-presidente Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção. A solicitação foi atendida pelo presidente em 24 de dezembro, três dias após a votação.
Os quatro vídeos dizem respeito a três reuniões do deputado fujimorista Moisés Mamani com Kenji e aliados. Em uma delas, o parlamentar Guillermo Bocángel tenta convencer o colega a almoçar com o presidente.
Entre as sugestões dadas pelo grupo estão pedir a PPK o apoio para a candidatura do Força Popular à mesa diretora do Congresso, a ser escolhida em junho, e obras para a região de Puno (sul), reduto eleitoral de Mamami.
"O que você quer, obras para a sua região, desenvolvimento, progresso?", disse Kenji ao parlamentar, em alusão à possibilidade de benefícios que poderia ter caso desse seu apoio à permanência do presidente.
Segundo Mamani, o esquema teria lhe sido explicado por Freddy Aragón, gerente de políticas da Superintendência Nacional de Controle dos Serviços de Segurança. Aragón foi demitido logo depois da divulgação dos áudios.
"Sabe qual é o negócio dos legisladores? Ver que prefeito você tem, com 3 milhões [de sóis, cerca de R$ 3 milhões], você já fecha com o prefeito, faz a tramitação com o executivo e é feita a operação", disse o gerente.
"Isso fazem os apristas [ligados ao ex-presidente Alan García], os humalistas [aliados do ex-presidente Ollanta Humala], a grana chega fresquinha. Imagina, cara, de uma obra de 100 milhões de sóis que você ganhe 5%, nossa, cara, você tem cinco milhõezinhos sem mexer um dedo."
Em outra reunião, Bienvenido Ramírez, outro legislador ligado a Kenji, comenta que, com a proximidade com PPK, conseguiu "em menos de uma semana" obras para Tumbes (noroeste), além de indicar aliados para autarquias.
Para Keiko, a acusação foi uma prova de dignidade do aliado Mamani e é motivo para que PPK apresente sua renúncia. "Este governo achava que com dinheiro se compra tudo. [...] Chegou a hora de dizer ao senhor PPK que vá embora, mas já. Sua saída fará com que nós renasçamos como nação."
'Historinha'
Horas depois da divulgação das gravações, o presidente disse estar tranquilo em relação ao processo de vacância e minimizou as acusações da oposição. "É uma historinha", disse.
A chefe de gabinete, Mercedes Araoz, afirmou que o governo não compra votos e que se trata de uma "fanfarronice" de Ramírez a descrição sobre as obras.
A negativa veio com ironias à oposição fujimorista. "Não existe entrega de dinheiro como acontecia na época de Montesinos [Vladimiro, homem forte de Fujimori] e não houve as nomeações para os cargos."
Ao negar a compra de votos, Kenji Fujimori atacou a irmã. "Lamento muitíssimo as baixarias e atitudes criminosas da Força Popular e da Keiko, gravando com câmera escondida e tergiversando informação."