Civis correm de atiradores em região limítrofe de Aleppo, entre área comandada por rebeldes e outra sob o domínio do governo; e homem escapa do perigo carregando criança em Raqqa| Foto: Muzaffar Salman/Reuters; Nour Fourat/Reuters

Testemunho

"Eles estavam deitados, pareciam dormir. Mas estavam mortos"

Imagens recebidas da Síria, inclusive por fotógrafos que colaboram com a Reuters, mostram vários corpos – alguns deles de crianças pequenas – no chão de uma clínica, sem sinais visíveis de lesões. Algumas mostravam pessoas com espuma ao redor da boca. A Reuters não pôde verificar a causa das mortes.

Os Estados Unidos e outros países dizem que não há confirmação independente de que armas químicas foram usadas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o chefe da equipe de inspetores das Nações Unidas em Damasco já está discutindo as novas alegações com o governo.

Ativistas de oposição citaram várias cifras de mortos, de 500 a 1.300. Eles disseram que os foguetes caíram por volta de 3 h (21 h de terça-feira em Brasília). O último ataque grave com arma química ocorreu em 1988, quando cerca de 5 mil curdos iraquianos foram mortos com gás pelas forças de Saddam Hussein em Halabja.

Um homem que disse ter retirado vítimas no subúrbio damasceno de Erbin disse à Reuters: "Entrávamos em uma casa e estava tudo em seu lugar. Cada pessoa estava em seu lugar. Eles estavam deitados, pareciam dormir. Mas estavam mortos."

Quando mísseis atingiram a aldeia de Mouadamiya, a sudoeste da capital, Farah al-Shami ignorou rumores no Facebook de que os artefatos estariam carregados de agentes químicos. Ela achava que seu bairro estava perto demais de um quartel para ser afetado.

"E há o fato de a ONU estar aqui. Parecia impossível. Mas aí comecei a ficar tonta. Estava sufocando e meus olhos estavam ardendo", disse a síria de 23 anos à Reuters, via Skype. "Corri para o posto de saúde. Felizmente ninguém da minha família passou mal, mas vi famílias inteiras no chão."

Reuters

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A oposição síria acusou ontem as forças do presidente Bashar Assad de realizar um ataque com arma química. Usando uma forma de gás letal, o governo teria matado centenas de homens, mulheres e crianças enquanto dormiam. O incidente, que pode ser o mais grave ataque com armas químicas desde a década de 1980, levou a uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, a Organização das Nações Unidas, em Nova York.

De acordo com rebeldes sírios, algo entre 500 e 1.300 pessoas morreram em subúrbios de Damasco controlados por rebeldes, vítimas do ataque.

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O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse estar chocado com a notícia. A Rússia defendeu o governo sírio e afirmou que a denúncia é uma "provocação" dos rebeldes.

França, Grã-Bretanha, EUA e outros países defenderam que inspetores da ONU – que chegaram nesta semana a Damasco – aproveitem para investigar o incidente in loco.

Em Israel, o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, disse a jornalistas que a Síria usou armas químicas, e que essa não foi a primeira vez.

Linha

Meses atrás, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que o uso de armas químicas seria um fator grave o suficiente para justificar a intervenção americana na Síria. Em junho, quando ficou estabelecido que Assad havia empregado armas químicas contra os rebeldes em situações mais limitadas e igualmente contestadas, Washington intensificou seu apoio aos rebeldes.

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Se confirmado, o ataque de ontem com gás deve aumentar a pressão sobre Obama para que entre na crise síria. Um dos dilemas americanos é a informação de que opositores de Assad recebem apoio da rede terrorista Al-Qaeda.

Em reuniões anteriores do Conselho de Segurança da ONU, a Rússia defendeu Bashar Assad e vetou tentativas de sancionar o governo sírio. O mesmo deve ocorrer agora.

1.300 mortes é o número máximo estimado pela oposição síria do suposto ataque com armas químicas ocorrido ontem em uma região a leste de Damasco. Se confirmado, ataque químico será o maior do mundo nos últimos 30 anos.