A oposição venezuelana prepara uma dura reação nas ruas contra a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), dominado pelo chavismo, de assumir as funções da Assembleia Nacional (AN). Para evitar a repressão da polícia contra os manifestantes, o presidente da Casa legislativa, Julio Borges, adotou uma postura cautelosa com a agenda protestos. Nesta sexta-feira (31), líderes regionais reforçaram sua condenação à ação do Judiciário, classificada pela oposição e por parte da comunidade internacional como golpe de Estado.
“Nós não queremos que o governo nos reprima desde já, vamos fazer [protestos] no momento certo e vamos fazê-lo na companhia do povo venezuelano em todos os lugares do país”, disse o deputado.
A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) explicará sua estratégia nesta sexta em uma entrevista coletiva em Caracas. Mas na capital da Venezuela, Caracas, a insatisfação começou a ser sentida. Em vários bairros do Leste da cidade ocorreram manifestações pequenas e espontâneas para rejeitar o que está sendo considerado uma ruptura da ordem constitucional.
A oposição havia planejado inicialmente manifestações neste sábado e na próxima semana. Um grupo de deputados da oposição foi o primeiro a protagonizar um protesto ainda na quinta-feira. Eles se manifestaram em frente à sede do Supremo, no centro de Caracas, contra a sentença 156 da Sala Constitucional do TSJ, emitida na noite anterior.
“Devemos sair, protestar e lutar por nossos direitos... vêm dias muito difíceis para a Venezuela”, afirmou o deputado Carlos Paparoni.
A medida do TSJ desatou uma enxurrada de críticas da comunidade internacional. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, condenou qualquer situação que “altere a ordem democrática”.
“Quero me expressar sobre uma questão que tem nos preocupado nas últimas horas, sobre a situação na Venezuela, e quero expressar, em nome do governo e do povo chileno, nossa condenação a qualquer situação que altere a ordem democrática na Venezuela”, disse Bachelet durante um fórum empresarial em Lisboa, onde realiza uma visita oficial de dois dias.
Bachelet havia classificado na quinta-feira no Twitter de “muito preocupante” a crise política na Venezuela. E o chanceler chileno, Heraldo Muñoz, havia anunciado pouco depois a chamada para consultas do embaixador chileno na Venezuela, Pedro Ramírez.
O Peru foi o primeiro país da região a reagir ao governo de Nicolás Maduro, retirando de maneira definitiva seu embaixador na Venezuela, enquanto o Brasil classificou de “ruptura da ordem constitucional” o que aconteceu no país.
Estados Unidos, União Europeia (UE), Organização dos Estados Americanos (OEA), Canadá e vários outros países da América Latina (Colômbia, Argentina, México, Panamá e Guatemala) também denunciaram a decisão da Sala Constitucional do TSJ.