A deputada cassada venezuelana María Corina Machado comparou ontem o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro com a ditadura militar brasileira (1964-1985), fazendo referência aos 50 anos do golpe militar, durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
"Pelas circunstâncias da vida, venho por acaso na hora em que seu país completa 50 anos do início da ditadura. Sei que ficaram muitos sentimentos dolorosos para sua pátria, como das famílias destruídas, das torturas. Isso nos une, porque é precisamente o que a Venezuela está vivendo agora", afirmou, logo no início de seu discurso.
E definiu: "Estamos vivendo em um regime sem escrúpulos que não hesitou em calar as vozes dos cidadãos".
Um grupo de cerca de dez manifestantes ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) protestou no início da audiência, aos gritos de "golpista", e impediu que ela falasse. Eles foram retirados da sala pelos seguranças do Senado.
A deputada cassada afirmou que a atual onda de protestos na Venezuela é um "movimento cívico inédito", ao qual o regime de Maduro "tomou a decisão de reprimir brutalmente", comparando-o novamente às ditaduras do século 20 na América Latina. Corina pediu ajuda ao Brasil na solução da crise na Venezuela.
"Nossos Estados são signatários da carta democrática interamericana, que estabeleceu compromissos coletivos entre os países deste hemisfério para a defesa da democracia na região. Para os venezuelanos é incompreensível ver como os países da América Latina foram tão ativos com crises politicas como no Paraguai e Honduras e, frente ao ocorrido na Venezuela, nos dão as costas. O que tem que ocorrer? Quantas mais violações aos direitos humanos, quantos mais venezuelanos assassinados para que os democratas do hemisfério escutem nossa voz?", questionou.
Presidente Nicolás Maduro critica os EUA no New York Times
Em artigo publicado no jornal The New York Times, o presidente venezuelano Nicolás Maduro criticou o governo dos EUA e pediu que o "povo americano" não puna a Venezuela com sanções. Ele também fez um apelo à paz e criticou a mídia internacional por "distorcer a realidade" dos protestos. Segundo Maduro, há nos EUA uma "narrativa" do governo na qual "os manifestantes são amplamente descritos como pacíficos, enquanto o governo é violento e repressor". Maduro diz que o governo americano apoiou o golpe de 2002 contra o então presidente Hugo Chávez e que a administração Obama gasta US$ 5 milhões (R$ 11,4 milhões) para financiar a oposição na Venezuela. A Conferência Episcopal da Venezuela, na figura do monsenhor Diego Padrón, acusou Maduro de tentar impor um governo totalitário com a desculpa de defender ideal chavista.